Famílias das vítimas da Operação Contenção deixam o IML sob dor e questionamentos
Alta letalidade das ações policiais volta ao centro do debate após operação nos complexos da Penha e do Alemão
Joédson Alves/Agência Brasil Os últimos corpos das vítimas da Operação Contenção, realizada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro no início desta semana, começaram a ser liberados no Instituto Médico Legal (IML), no centro da capital fluminense. A ação ocorreu nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte, e terminou com 99 mortos, segundo a Polícia Civil. O cenário, marcado por dor, indignação e denúncias de execuções, reacende o debate sobre a letalidade das operações policiais no estado.
Panorama e desafios da operação
A Operação Contenção foi justificada pelo governo estadual como uma resposta ao avanço do Comando Vermelho na região. Segundo informações da Secretaria de Segurança, os complexos da Penha e do Alemão vinham sendo usados como polos estratégicos da facção, movimentando até 10 toneladas de drogas por mês. A ação, realizada com apoio de agentes federais e estaduais, teve como objetivo desarticular núcleos do tráfico e conter o fluxo de armamentos e entorpecentes.
Contudo, o número elevado de mortos e a ausência de prisões dos principais líderes do grupo criminoso lançaram dúvidas sobre a eficácia da operação. O governador Cláudio Castro defendeu os resultados, afirmando que os mortos possuíam envolvimento com o crime e que os trabalhos de investigação e inteligência foram executados de forma adequada.
A dor das famílias e os corpos sem respostas
Enquanto o Estado apresenta dados e justificativas, famílias lidam com o luto e a falta de explicações claras. Karine Beatriz, de 26 anos, grávida de poucos meses, esteve no IML para reconhecer o corpo de seu esposo, Wagner Nunes Santana, após três dias de buscas na Serra da Misericórdia, na Penha. Segundo ela, Wagner foi encontrado com um tiro na testa, dentro de um lago.
"Alívio só vou ter com respostas. De onde vem essa pena de morte se existe presídio? Até quando vai isso?", questionou, emocionada, ao denunciar supostas execuções durante a operação.
Karine destacou que, mesmo com erros passados, Wagner era pai de família e trabalhador, responsável por cuidar da casa e da filha dela, de 9 anos. “Ele estava ajudando a erguer uma casa na comunidade e fazia o cabelo da minha filha pra ir à escola. Esses momentos não voltam mais", relatou.
Denúncias, segurança pública e impacto social
Organizações de direitos humanos e moradores da região apontam que a operação foi marcada por ações de extermínio, com relatos de mortes de pessoas que teriam tentado se render. A denúncia de caixões fechados, impedindo o reconhecimento visual dos corpos, reforça as suspeitas de execuções extrajudiciais, cenário recorrente em áreas de conflito urbano no Rio.
Além do trauma das famílias, a operação deixou um rastro de medo coletivo nas comunidades. Escolas fecharam, moradores ficaram sem transporte e crianças presenciaram cenas de guerra. Especialistas em segurança pública criticam o modelo de enfrentamento armado, apontando que a estratégia não reduz a criminalidade nem recupera territórios de forma sustentável.
Repercussão nacional e conexão com outras regiões
Das 99 vítimas identificadas até o dia 31, 13 eram de outros estados como Pará, Bahia, Amazonas, Ceará, Paraíba e Espírito Santo — o que, segundo o governo, confirma a disseminação nacional do Comando Vermelho. O governador Cláudio Castro destacou a necessidade de integração entre estados para o combate ao narcotráfico e prometeu apresentar relatórios da operação às autoridades competentes.
A letalidade, no entanto, reacende críticas já feitas por órgãos internacionais e por entidades como a ONU e a Anistia Internacional, que alertam para a violação de direitos humanos em operações semelhantes no passado. A comunidade internacional tem acompanhado o histórico de ações policiais no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, onde operações em favelas acumulam altos índices de mortes.
Conclusão
A Operação Contenção se soma a uma série de ações controversas no Rio de Janeiro, marcadas por alta letalidade, impacto social devastador e ausência de políticas públicas estruturais. O caso de Wagner Nunes e o relato de Karine Beatriz escancaram o abismo entre o discurso oficial de segurança e a realidade das periferias.
A tragédia levanta a pergunta: até quando comunidades inteiras precisarão pagar com vidas o preço da guerra contra o crime?
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