Feriadão de seis dias deve injetar R$ 103 milhões no Rio: turismo movimenta a cidade e serve de alerta para outras capitais
Oportunidade econômica no calendário: Como o Rio de Janeiro transformou um feriado prolongado em força motora para o turismo urbano — e o que Curitiba pode aprender com isso
- Por Fabiano Alves
10/04/2025 | Atualizado em 10/04/2025 - 12h23

Entre os dias 18 e 23 de abril, o Rio de Janeiro vivenciará um dos períodos mais promissores do ano para o setor turístico: um feriadão de seis dias consecutivos que promete movimentar intensamente a economia da capital fluminense. A estimativa oficial, divulgada pelo Visit Rio Convention Bureau, aponta para um impacto econômico de aproximadamente R$ 103 milhões, apenas nesse intervalo. Além disso, o município deve arrecadar R$ 5 milhões em Imposto Sobre Serviços (ISS), reforçando a importância do turismo como motor da economia urbana.
A conta é simples, mas reveladora: com o feriado da Paixão de Cristo (18), Tiradentes (21) e São Jorge (23), o governo estadual e a prefeitura do Rio decretaram ponto facultativo no dia 22, criando uma sequência ininterrupta de seis dias que será aproveitada não apenas pelos cariocas, mas por milhares de visitantes que escolheram a cidade maravilhosa como destino.
Essa movimentação é o retrato de um fenômeno que vai além da sazonalidade e toca diretamente na estrutura produtiva de uma metrópole: o turismo não é mais uma atividade periférica ou complementar — é centro da engrenagem urbana. E essa constatação é tão válida para o Rio quanto para outras capitais brasileiras, como Curitiba, que também possuem atrativos culturais, históricos e naturais de valor significativo, mas que muitas vezes deixam de ativar seu potencial durante feriados prolongados.
Hotelaria em alta: Zona Oeste lidera ocupação
Segundo levantamento do Visit Rio, a média de ocupação hoteleira prevista para o período é de 85%, podendo atingir 95% no dia 19 de abril — um pico histórico. A Zona Oeste do Rio, que tradicionalmente é menos visada que a badalada Zona Sul, lidera com 92,6% de ocupação confirmada até o momento. Em seguida, vêm a Zona Sul (84,1%) e o Centro (72,38%).
Esses números refletem uma descentralização do turismo carioca, algo que Curitiba pode observar com atenção. Se o Rio está explorando melhor suas diferentes regiões, promovendo atrativos fora do “cartão-postal clássico” do Pão de Açúcar e do Cristo Redentor, a capital paranaense também tem potencial para valorizar bairros além do Centro Histórico e do Batel. Um roteiro inteligente pode descentralizar o turismo, gerar renda para mais comerciantes e criar experiências únicas para quem visita — ou mesmo para quem redescobre a própria cidade.
Eventos que impulsionam a economia local
Durante os seis dias do feriadão, o Rio receberá 12 grandes eventos, entre esportivos, culturais e shows. Destaque para competições como o Campeonato Sul-Americano de Tênis de Mesa 2025, a Copa Sur de Crossfit 2025 e o Triathlon Sprint & Standard. No entretenimento, o calendário é igualmente expressivo: a icônica Tardezinha Rio de Janeiro, o show comemorativo dos 60 anos da banda Scorpions e a tradicional Corrida da Mesa do Imperador, realizada no Parque Nacional da Tijuca, são apenas alguns exemplos.
Essas atrações não apenas atraem turistas de outros estados e países, mas também mobilizam o carioca a ocupar a cidade, consumir em bares, restaurantes, museus e transporte — o que gera um efeito multiplicador relevante. Segundo Carlos Werneck, presidente do Visit Rio Bureau, “esses números revelam não apenas uma intensa movimentação turística, mas um verdadeiro impulso econômico para toda a cidade. O impacto vai muito além da rede hoteleira, beneficiando toda a cadeia produtiva do turismo”.
Essa afirmação coloca uma lente de aumento sobre o papel dos eventos como indutores de desenvolvimento. Curitiba, por exemplo, tem um calendário cultural rico e diverso, mas poderia investir com mais intensidade em ações promocionais integradas que transformem os feriados em alavancas econômicas — com o planejamento e a visibilidade que o Rio demonstra neste caso.
Turismo como estratégia de desenvolvimento urbano
A estratégia carioca de capitalizar sobre o calendário de feriados é uma aula prática de como política pública e iniciativa privada podem caminhar juntas. A antecipação no planejamento, a articulação com a rede hoteleira, a valorização da diversidade de regiões da cidade e a aposta em grandes eventos mostram que o turismo é um setor estratégico, e não apenas um “bônus” na economia urbana.
Curitiba, com seu perfil inovador e histórico de urbanismo premiado, tem todos os ingredientes para seguir esse caminho. A questão é como organizar essa receita. Com os parques, feiras gastronômicas, festivais culturais e opções históricas e arquitetônicas, a capital paranaense pode — e deve — pensar no turismo de maneira mais estratégica, principalmente em datas em que o fluxo de visitantes pode ser naturalmente estimulado.
Reflexão: e se o próximo feriadão fosse tratado como oportunidade?
Ao olhar para o exemplo carioca, fica a pergunta: e se Curitiba tratasse o próximo feriadão como o Rio está tratando este? O que poderia ser feito para transformar uma simples pausa no calendário em uma força impulsionadora para a economia criativa, a cultura local e o comércio urbano?
O turismo urbano precisa ser visto como política pública contínua e articulada. Não se trata apenas de vender pacotes de viagem, mas de gerar experiências, renda e orgulho local. O feriadão do Rio de Janeiro é, acima de tudo, um exemplo de como olhar para o próprio território com visão de futuro.
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