Grupo Leader tem falência decretada pela Justiça do Rio e encerra trajetória de mais de 70 anos no varejo
Rede tradicional não cumpriu obrigações do plano de recuperação judicial e deixa rombo bilionário; veja impactos e o que acontece com os consumidores

A tradicional rede de lojas de departamento Leader, conhecida por estar presente em dezenas de cidades brasileiras desde a década de 1950, teve sua falência decretada pela Justiça do Rio de Janeiro. A decisão foi proferida pelo juiz Leonardo de Castro Gomes, da 3ª Vara Empresarial da Capital, após o grupo descumprir o plano de recuperação judicial aprovado pelos credores em maio de 2021.
Com uma dívida estimada em R$ 1,2 bilhão, o Grupo Leader não conseguiu honrar os compromissos assumidos, mesmo após diversas tentativas de reestruturação. O caso evidencia a dificuldade enfrentada por redes varejistas tradicionais diante das transformações do mercado, especialmente após os desafios econômicos impostos pela pandemia.
“Inviabilidade econômica”: Justiça põe fim à tentativa de recuperação
Segundo a decisão judicial, o grupo teve diversas oportunidades para se reorganizar, mas nenhuma resultou em avanços concretos. “O compromisso assumido frente ao Judiciário não foi cumprido, demonstrando, ao contrário do que se propusera, verdadeira inviabilidade econômica da empresa”, escreveu o magistrado em sua sentença.
Ainda de acordo com o juiz Leonardo Gomes, a permanência da Leader operando sem estrutura econômica sólida poderia comprometer a credibilidade do sistema judicial e afetar o equilíbrio do mercado. “Todo o fôlego judicialmente concedido à requerente foi em vão”, enfatizou.
De Miracema para o Brasil: o auge e a queda da Leader
Fundada em 1951 no município de Miracema, no interior do Rio de Janeiro, a Leader se consolidou ao longo das décadas como uma das principais redes de departamento do país. No auge, em 2018, contava com 104 lojas espalhadas por estados como Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Norte, São Paulo, Sergipe e, claro, o Rio de Janeiro, onde estava a maior concentração de unidades.
A proposta da empresa era oferecer moda, eletrodomésticos e utilidades domésticas com preços acessíveis. A estratégia rendeu sucesso por muitos anos, sobretudo nas classes C e D. Entretanto, a chegada de grandes players do e-commerce e a transformação dos hábitos de consumo impactaram fortemente os resultados da rede.
Impactos da falência: o que muda para clientes, funcionários e credores
A falência decretada implica o encerramento das atividades da empresa, a liquidação dos bens e o pagamento – na medida do possível – dos credores, seguindo a ordem legal de prioridades. Para os consumidores, a principal dúvida está relacionada às compras realizadas recentemente ou em andamento, incluindo entregas pendentes e garantias.
Especialistas explicam que, em casos como esse, clientes que pagaram antecipadamente por produtos podem ser considerados credores e entrar na lista de reembolsos. No entanto, a chance de recuperação total dos valores é considerada baixa.
Já os funcionários – muitos dos quais ainda aguardam o pagamento de direitos trabalhistas – passam a ter prioridade nos recebimentos, de acordo com a Lei de Falências. A estimativa é que cerca de 2 mil empregos diretos tenham sido afetados com o colapso da rede nos últimos anos.
Reflexos no varejo e lições para o setor
O caso da Leader se soma a outras falências e recuperações judiciais no varejo brasileiro nos últimos anos, como a da Ricardo Eletro e a crise enfrentada pelas Lojas Americanas. Essas situações evidenciam a necessidade de transformação digital, gestão eficiente e adaptação constante às mudanças do mercado.
Em Curitiba e região, onde outras redes varejistas também vêm enfrentando desafios semelhantes, o cenário serve de alerta. Para especialistas, o varejo físico tradicional precisa acelerar processos de inovação, omnicanalidade e relacionamento com o consumidor para sobreviver à nova era do consumo.
Segundo o economista Rodrigo Tomazini, da Fundação de Estudos Econômicos do Paraná (FEEP), “há um movimento claro de transformação no comportamento de consumo, e empresas que não investem em tecnologia, logística e experiência do cliente acabam perdendo competitividade”.
O que acontece agora: próximos passos no processo de falência
Com a falência decretada, a Justiça nomeará um administrador judicial responsável por conduzir o processo de liquidação dos ativos e coordenação dos pagamentos. O patrimônio do grupo, incluindo lojas, estoques e bens, será avaliado e colocado à venda para pagar parte dos débitos.
A decisão ainda pode ser contestada por meio de recurso, mas, segundo fontes jurídicas, as chances de reversão são remotas, dado o histórico de descumprimento das obrigações assumidas pela empresa.
Conclusão: o fim de uma era e o início de novas lições
O encerramento das atividades da Leader marca o fim de uma era para muitos consumidores brasileiros, especialmente nas regiões onde a rede era uma das poucas opções de compras populares. Por outro lado, o episódio serve de exemplo sobre os riscos da estagnação em um setor cada vez mais competitivo e conectado.
Para clientes, fornecedores e profissionais do varejo, a falência da Leader é um chamado à atenção para práticas sustentáveis de gestão, inovação constante e atenção às novas demandas do mercado.
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