Bebê morre engasgado em creche clandestina enquanto 7 mil crianças esperam vaga em Curitiba
Caso de Gael, de 4 meses, expõe a crise na educação infantil em Curitiba: famílias sem alternativas enfrentam riscos graves diante da falta de vagas nas creches municipais.

Foto do bebê Gael, de 4 meses, que morreu após se engasgar em creche clandestina de Curitiba.
Créditos: Reprodução
Introdução
Um bebê de apenas quatro meses morreu engasgado com leite em uma creche clandestina de Curitiba, revelando uma dura realidade enfrentada por milhares de famílias na capital paranaense. A mãe do pequeno Gael, desesperada para voltar ao trabalho, não encontrou vaga na rede pública e, sem opções, confiou o filho aos cuidados de um casal em um espaço irregular. Atualmente, mais de 7.300 crianças esperam por uma vaga nas creches mantidas pela Prefeitura de Curitiba, evidenciando uma crise silenciosa e perigosa na educação infantil local.
Tragédia anunciada: a morte de Gael
Na manhã do dia 19 de fevereiro, Gael estava sob os cuidados de um casal em uma casa adaptada para acolher crianças — sem autorização da prefeitura, sem fiscalização regular e sem estrutura adequada. A mãe, Izabela Cunha Cordeiro, conta que recorreu à creche clandestina após diversas tentativas de conseguir uma vaga na rede pública.
“Eu estava sem escolha. Tinha que voltar a trabalhar. Eu só voltei a trabalhar porque eu precisava”, lamenta a mãe.
Gael engasgou após tomar a mamadeira, segundo a versão apresentada pelo casal à polícia. Apesar das tentativas de reanimação e do chamado ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o bebê já estava sem vida quando a equipe chegou ao local.
Funcionamento irregular e superlotação
O casal responsável pelo espaço afirmou à polícia que normalmente cuidava de cinco crianças. No entanto, no dia da morte de Gael, cerca de 20 crianças estavam no local. A Polícia Civil classificou o local como uma creche clandestina.
“A partir do momento que você recebe várias crianças, fornece alimentação e tem estrutura para isso, configura-se uma creche, sim”, afirmou o delegado Fabiano Oliveira.
Segundo os vizinhos, o local já funcionava há cerca de dez anos. Mesmo assim, continuava operando sem alvará, sem fiscalização efetiva e sem autorização da Secretaria Municipal da Educação.
Fila por vagas: mais de 7.300 crianças aguardam atendimento
De acordo com a própria Prefeitura de Curitiba, 7.300 crianças estão atualmente na fila de espera por uma vaga nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) ou Centros de Educação Infantil contratados (CEIs).
A Secretaria Municipal da Educação afirmou que os critérios de seleção levam em conta a vulnerabilidade social e ordem de cadastro, e que os chamamentos são feitos ao longo do ano, conforme a disponibilidade de vagas.
No caso de Gael, a prefeitura afirmou que ele passou a concorrer por uma vaga na semana anterior à sua morte, quando completou quatro meses de idade, idade mínima exigida pelo sistema.
Condições precárias e fiscalização falha
O casal preso em flagrante após a morte do bebê afirmou à polícia que o local já havia recebido visitas do Conselho Tutelar e da Vigilância Sanitária. A prefeitura confirmou que, em 2022, uma equipe da Vigilância esteve no local apenas para ação educativa, e que nenhuma denúncia formal foi registrada desde então.
Mesmo com histórico de funcionamento, o espaço continuava operando de forma clandestina — uma situação não exclusiva desse caso, mas que reflete a omissão no acompanhamento desses ambientes informais.
Consequências jurídicas e revolta popular
A tragédia causou comoção no bairro. Após o anúncio da morte de Gael, moradores da região tentaram incendiar o imóvel, obrigando a polícia a isolar a área.
O casal vai responder por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Ambos foram presos, mas liberados após pagamento de fiança e decisão judicial. A defesa dos acusados alega que o espaço oferecia apenas “atendimento privado”, mas a família da vítima contesta.
“Houve uma série de imprudências que levaram à morte da criança”, afirma Igor Ogar, advogado da família de Gael.
A rotina de famílias sem alternativas
O drama vivido por Izabela não é isolado. Com a falta de vagas e ausência de políticas públicas mais ágeis, mães e pais recorrem a soluções precárias e muitas vezes perigosas.
“Não é justo que a vida de uma criança se perca porque o Estado não tem estrutura para atender a demanda”, declarou um morador da região, que também procurava vaga para a filha.
Em Curitiba, o crescimento da população e a entrada cada vez mais precoce dos pais no mercado de trabalho ampliam a pressão sobre os equipamentos de educação infantil, que não conseguem acompanhar o ritmo das necessidades da sociedade.
Educação infantil em crise: um desafio nacional
A situação de Curitiba reflete um problema que vai além dos limites da cidade. Em todo o Brasil, milhares de crianças não têm acesso à educação infantil, uma etapa fundamental para o desenvolvimento humano e social.
Segundo dados do IBGE, mais de 2 milhões de crianças de 0 a 3 anos estão fora da creche no país. O número representa um desafio para a garantia de direitos e revela a necessidade urgente de investimentos estruturais, ampliação de vagas e fiscalização ativa de espaços irregulares.
O que pode ser feito?
Especialistas apontam algumas medidas essenciais:
Aumento do orçamento municipal para educação infantil
Parcerias com instituições privadas regulamentadas
Criação de um sistema de fiscalização comunitária
Ampliação e modernização dos CMEIs existentes
Agilidade nos processos de cadastro e triagem por prioridade
Além disso, é essencial que as famílias tenham acesso a informações seguras sobre os locais onde deixar seus filhos — e que creches clandestinas sejam combatidas de forma preventiva, não apenas reativa.
Conclusão
A morte de Gael comove, revolta e, acima de tudo, expõe uma realidade dolorosa para muitas famílias curitibanas. A falta de alternativas seguras obriga mães e pais a arriscar o bem mais precioso que possuem: a vida dos seus filhos.
Curitiba precisa agir. O Paraná precisa agir. O Brasil precisa agir. Que a dor dessa mãe não seja em vão e que a história de Gael sirva de alerta para mudanças estruturais urgentes no cuidado com a primeira infância.
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