Operação no Rio: o que pensa a população?

Uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada nesta sexta-feira (1º), revelou que 57% dos moradores do Rio de Janeiro consideram a recente operação policial no Complexo da Penha um sucesso. A ação teve como alvo o Comando Vermelho (CV), facção criminosa que atua fortemente na região. A pesquisa ouviu 1.100 pessoas entre os dias 28 e 30 de outubro e lança luz sobre a percepção pública diante de uma das maiores intervenções policiais do ano.

Violência, insegurança e o apoio à ação policial

A operação, realizada pela Polícia Militar em conjunto com a Polícia Civil, mobilizou mais de 400 agentes e resultou em 18 mortes, além da apreensão de armas de grosso calibre e drogas. Apesar da letalidade da ação gerar críticas de organizações de direitos humanos, mais da metade da população entrevistada avaliou positivamente o resultado.

Além dos 57% que classificaram a operação como bem-sucedida, 28% consideraram-na um fracasso, enquanto 15% disseram não saber ou preferiram não opinar. A pesquisa revelou ainda que moradores das zonas Norte e Oeste, áreas mais afetadas pela violência urbana, são os que mais apoiam esse tipo de ação.

Questões de segurança, Estado e controle do território

Segundo especialistas, o apoio à operação reflete uma sensação coletiva de abandono histórico do Estado em comunidades dominadas por facções criminosas. Para muitos moradores, as ações policiais são vistas como uma das poucas presenças estatais nessas regiões.

Por outro lado, entidades como a OAB-RJ e a Comissão de Direitos Humanos da Alerj alertam para a banalização da violência policial e para a necessidade de investigações rigorosas sobre as mortes ocorridas. Ainda assim, o levantamento mostra que, mesmo diante das críticas, a população valoriza ações que aumentem a sensação de segurança imediata.

Especialistas divergem e apontam caminhos para soluções duradouras

Segundo o sociólogo e pesquisador da UFRJ, Cláudio Nascimento, a pesquisa do Datafolha revela uma "urgência por segurança que ultrapassa o debate sobre os meios". Ele destaca que, para muitas famílias, “voltar a andar na rua com tranquilidade vale mais que uma análise jurídica da operação”.

Enquanto isso, especialistas em políticas públicas reforçam que ações pontuais, sem investimento social contínuo, não geram mudanças estruturais. O Instituto Fogo Cruzado aponta que o número de tiroteios em comunidades cariocas aumentou 12% em relação ao mesmo período de 2024, indicando que a presença de facções como o Comando Vermelho ainda é forte e resiliente.

Policiais patrulham rua com carros incendiados após confrontos durante operação contra o Comando Vermelho no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro.

Créditos da Foto:

📷 Ricardo Moraes / Reuters

Reflexão final: segurança com cidadania é possível?

O apoio da população à operação contra o Comando Vermelho escancara o desejo por mudanças concretas na segurança pública do Rio de Janeiro. No entanto, também levanta questões sobre o equilíbrio entre eficácia policial e respeito aos direitos humanos. O resultado da pesquisa do Datafolha acende um alerta: sem soluções estruturais, o apoio à violência pode se tornar regra, não exceção.

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