Balsas lidera desmatamento no Cerrado e ameaça segurança hídrica do Nordeste
Expansão do agronegócio transforma o sul do Maranhão em polo produtivo, mas seca nascentes do Rio Balsas e acende alerta sobre crise hídrica
  Fernando Frazão/Agência Brasil					  Rios secando em meio ao avanço do agro: como Balsas, no sul do Maranhão, virou símbolo da crise hídrica no Cerrado
Com mais de 100 mil habitantes e o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) do Maranhão, o município de Balsas, no extremo sul do estado, ocupa um posto preocupante: é o segundo que mais desmatou no país nos últimos dois anos, de acordo com o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD 2024), elaborado pelo MapBiomas.
A cidade, considerada um dos maiores polos do agronegócio do Brasil, também abriga parte das nascentes da Bacia do Rio Parnaíba, a segunda mais importante do Nordeste. Nas últimas décadas, a intensa expansão agropecuária tem impactado diretamente os recursos hídricos da região, colocando em xeque a segurança hídrica nacional.
Agro em expansão, Cerrado em colapso: o que dizem moradores e especialistas
Ao percorrer mais de 300 quilômetros entre monoculturas em Balsas, a equipe da Radioagência Nacional chegou ao Vão do Uruçu, onde estão dezenas de nascentes do Rio Balsas, hoje sob ameaça. Uma delas, em Limpeza, nos Gerais de Balsas, já não corre mais: há apenas barro úmido onde antes havia abundância de água.
“Essa nascente aqui era água com fartura. Hoje, o rio está pedindo socorro”, desabafa o agricultor familiar José Carlos dos Santos, de 52 anos.
Segundo dados do Serviço Geológico Brasileiro, sete rios da região, incluindo os rios Parnaíba e Balsas, apresentam queda constante de vazão desde a década de 1970. Um estudo da Ambiental Media confirma: a Bacia do Parnaíba perdeu 24% de sua vazão média em 40 anos.
Balsas: potência agropecuária ou epicentro de uma crise hídrica silenciosa?
Para o geógrafo e professor da UFMA, Ronaldo Barros Sodré, a situação é crítica. Ele alerta para uma “crise hídrica silenciosa e crescente” impulsionada pela fronteira agrícola.
“Há desaparecimento de nascentes, redução de cursos d’água. É uma crise real, mas pouco visível”, afirma Sodré.
Apesar disso, o pesquisador acredita que é possível compatibilizar agropecuária e sustentabilidade hídrica, desde que haja integração com práticas agroecológicas e diálogo com comunidades tradicionais, que são os verdadeiros “guardiões das águas”.
O fazendeiro Paulo Antônio Rickli, um dos pioneiros na região, confirma a perda do Cerrado desde 2018. “Muitos avançaram até o limite, alguns até ultrapassaram”, relata.

Desenvolvimento desigual: entre riqueza econômica e escassez de água
Do outro lado da discussão, o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Balsas (Sindi Balsas), Airton Zamingnan, sustenta que o agro transformou a região:
“Saímos da região mais pobre do estado mais pobre do Brasil para uma das mais ricas. Só usamos 2,9% do território maranhense.”
Já a presidente da Associação Camponesa do Maranhão (ACA), Francisca Vieira Paz, questiona o modelo vigente:
“É um desenvolvimento para poucos e destruição para todos. A conta vai chegar”.
Governo admite problema hídrico, mas defende equilíbrio entre agro e meio ambiente
A secretária de Meio Ambiente de Balsas, Maria Regina Polo, reconhece os impactos ambientais, mas destaca que a maioria dos desmatamentos ocorre dentro da legalidade, respeitando o limite de 80% permitido em propriedades no Cerrado.
“O agronegócio é irreversível. A saída é torná-lo cada vez mais sustentável.”
O governo do Maranhão, por sua vez, ressalta ações como o programa Floresta Viva, focado na recuperação de nascentes. Segundo o secretário estadual do Meio Ambiente, Pedro Chagas, a crise hídrica não é provocada apenas pelo desmatamento, mas também pelas mudanças climáticas, agravadas por eventos extremos como a pior seca em oito anos, registrada em 2025.
Conclusão: o preço da produtividade
O caso de Balsas evidencia a encruzilhada entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. A cidade, símbolo da pujança agropecuária no Maranhão, também é o retrato de um Cerrado que agoniza. A degradação das nascentes do Rio Balsas e da Bacia do Parnaíba ameaça não apenas a biodiversidade, mas também a disponibilidade de água para milhões de pessoas no Nordeste.
Frente a essa realidade, cabe à sociedade e aos governos responderem: qual o real custo do progresso?
Você acredita que o modelo atual do agronegócio é compatível com a preservação dos recursos hídricos?
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