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Desastre de Mariana completa 10 anos e moradores ainda buscam justiça

Sobreviventes ainda enfrentam dificuldades no reassentamento e cobram indenizações; especialistas alertam para risco de novos desastres em Minas Gerais.

Portal Noticias Curitiba
Desastre de Mariana completa 10 anos e moradores ainda buscam justiça Distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), atingido pelo rompimento da barragem da Samarco. — Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil



Dez anos após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), vítimas seguem lutando por justiça e reconstrução; tragédia deixou 19 mortos e 600 desabrigados.




Uma década de dor e resistência em Mariana


Na manhã de 5 de novembro de 2015, a auxiliar de consultório odontológico Mônica Santos, então com 30 anos, saiu cedo de casa, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana (MG). Não imaginava que, 24 horas depois, veria sua casa coberta de lama — e que, dez anos mais tarde, ainda estaria lutando por justiça.


O rompimento da barragem de Fundão, operada pela Samarco, despejou cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, provocando um dos maiores desastres socioambientais da história do Brasil. A tragédia deixou 19 mortos, mais de 600 desabrigados e destruiu comunidades inteiras, entre elas Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima, Pedras, Águas Claras e Campinas.



“É como se estivesse tudo acontecendo agora”, relata Mônica, hoje líder comunitária e desempregada.





“Eu não tinha mais nada”


Naquela tarde, uma ligação da prima avisou o que havia ocorrido. Desesperada, Mônica buscou a mãe no trabalho e tentou voltar para casa. Passou a noite na estrada, até conseguir enxergar o cenário devastador ao amanhecer.



“Foi nesse momento que a ficha caiu. Eu não tinha mais nada.”



Mônica lembra que a Samarco sempre garantiu segurança aos moradores, afirmando que a barragem era monitorada 24 horas por dia. Além da casa, ela perdeu cinco amigos próximos no desastre.


Atualmente, vive no reassentamento de Novo Bento Rodrigues, a cerca de 13 quilômetros da antiga comunidade. Apesar da nova moradia, ela afirma que os problemas persistem.



“A nossa casa ainda está cheia de problemas. Ainda tem morador desabrigado que nem projeto de casa tem. Enquanto eu tiver força, vou lutar para que as pessoas sejam de fato indenizadas e restituídas.”



Mônica também denuncia que as casas entregues ainda não estão no nome das famílias reassentadas.




🖼️ Imagem principal:

Trabalhador rural segura ferramenta de cultivo em Bento Rodrigues, símbolo da resistência das famílias atingidas. — Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil

alt: Mãos de trabalhador rural segurando ferramenta em área atingida pelo rompimento da barragem em Mariana (MG).




Falta de punição e o medo de novas tragédias


Para Márcio Zonta, integrante da direção nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), o desastre de Mariana revela um modelo de mineração “antidemocrático”, no qual as populações afetadas não são ouvidas.



“As empresas não levam em consideração as comunidades. Não há um nível mínimo de reparação ao sofrimento das pessoas, e o Brasil não tem um projeto nacional de mineração”, afirmou.



Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), o país possui 916 barragens, das quais 74 apresentam maior risco de colapso e 91 estão em situação de alerta. Minas Gerais concentra 31 dessas estruturas, a maioria ligada à Vale.


Zonta alerta que tragédias semelhantes ainda podem ocorrer, especialmente no Sistema Sul de Mineração, onde se localizam Itabira, Mariana e Brumadinho — este último palco do desastre de 2019, com 272 mortos.




Impactos e impunidade


O promotor de Justiça Guilherme de Sá Meneguin, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), destacou ao programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, que o rompimento atingiu cerca de 3 milhões de pessoas em Minas Gerais e no Espírito Santo.



“Mais do que um crime ambiental, foi uma grave violação de direitos humanos que se perpetua até hoje.”



O superintendente executivo da ANM, Júlio César Rodrigues, reconheceu que houve avanços na política de segurança de barragens, mas ressaltou que pilhas de rejeitos ainda carecem de regulamentação adequada.




Samarco defende ações de reparação


Procurada pela Agência Brasil, a Samarco informou que já destinou R$ 68,4 bilhões para ações de reparação e compensação desde 2015, incluindo R$ 32,1 bilhões em 735 mil acordos de indenização individual.


Segundo a mineradora, os recursos “têm transformado a realidade econômica da bacia, estimulando o comércio e fortalecendo cadeias produtivas”.


Para os moradores, no entanto, a reconstrução ainda é lenta e desigual.



“Não foi fácil viver esses dez anos”, diz o agricultor Francisco de Paula Felipe, que agora vive em Novo Bento Rodrigues. “Espero ter saúde para criar minhas filhas e ver elas seguirem a vida.”





Uma ferida que ainda não cicatrizou


Dez anos após a lama cobrir Bento Rodrigues, a tragédia de Mariana continua viva na memória de quem sobreviveu. Para Mônica e tantos outros, a reparação ainda é um sonho incompleto — e o medo de novos rompimentos, uma sombra permanente sobre Minas Gerais.




Pergunta para interação:

Você acredita que o Brasil aprendeu algo com as tragédias de Mariana e Brumadinho?




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