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Filme Rejeito aborda violência que a mineração leva a cidades mineiras

Filme de Pedro de Filippi expõe como o medo de novos rompimentos é usado para expulsar comunidades e expandir áreas de mineração no estado.

Portal Noticias Curitiba
Filme Rejeito aborda violência que a mineração leva a cidades mineiras Cena do documentário “Rejeito” mostra moradores evacuados após alertas de risco de barragem. — Foto: Divulgação / Pedro de Filippi



Documentário “Rejeito”, de Pedro de Filippi, mostra como mineradoras usam o medo de desastres para pressionar comunidades de Minas Gerais a deixarem seus territórios.




O medo como instrumento de poder


Estreou na última semana nos cinemas nacionais o documentário “Rejeito”, dirigido por Pedro de Filippi. Filmado e produzido ao longo de quatro anos, o longa aborda o cotidiano das comunidades de pequenas cidades de Minas Gerais marcadas pela presença intensa da mineração — como Socorro e Barão de Cocais — e vem sendo aclamado em festivais no Brasil e no exterior por sua abordagem humanista e ambiental.


A obra acompanha a rotina dos moradores e abre espaço para suas vozes, discutindo como o medo da repetição de tragédias como a de Mariana é utilizado como ferramenta de pressão para a remoção forçada de comunidades, abrindo caminho para a expansão da fronteira mineradora.




“Terrorismo de barragens” e resistência popular


O termo que norteia o documentário — “terrorismo de barragens” — sintetiza uma prática denunciada por ambientalistas: o uso sistemático do risco de rompimentos como estratégia para deslocar famílias, descaracterizar territórios e facilitar o avanço das mineradoras.


Essa investigação foi conduzida em parceria com a ambientalista Maria Tereza Corujo, conhecida como Teca, que acompanha o tema desde a década de 1990. Ela atua como uma das principais vozes contra a pressão das empresas sobre as comunidades mineiras.



“O que a gente viu em Socorro foi um movimento de aquisição e divisão das comunidades. Irmãos foram realocados em bairros distantes, houve reuniões separadas, intrigas. Literalmente, separar para dividir. Hoje, 90% de Socorro já é da Vale”, relata Teca.



Segundo ela, a promessa de retorno das famílias expulsas — inicialmente prevista para 2023 — foi adiada para 2029. Enquanto isso, moradores são pressionados a vender suas terras a preços baixos, e as áreas desocupadas acabam entregues à expansão da mineração.




Um retrato da apropriação e do medo


Para o diretor Pedro de Filippi, o “terrorismo de barragens” é parte de uma estratégia de acumulação capitalista que transforma o medo em instrumento de poder.



“É uma estratégia antiga de apropriação. O medo causado pelo próprio setor da mineração — somado aos rompimentos — é usado para legitimar a expansão da atividade, principalmente em territórios que as empresas não conseguem acessar sem evacuar os moradores.”



Filippi destaca que o documentário também denuncia o vínculo entre interesses privados e o poder público, evidenciado em operações como a “Operação Rejeito”, da Polícia Federal, que apura irregularidades e influência política do setor minerador em Minas Gerais.



“O terrorismo de barragem vem como uma forma de contornar o que seria quase impossível de conseguir de outro jeito”, afirmou o diretor.





Exibições e impacto nas comunidades


As primeiras exibições de “Rejeito” ocorreram dentro das próprias comunidades retratadas. Filippi percorreu cidades como Barão de Cocais e Itabira, levando um projetor e exibindo o filme ao ar livre para os moradores e lideranças locais.


O cineasta pretende agora visitar sete municípios impactados pelo Projeto Apolo — o maior empreendimento minerário em fase de implantação na região central de Minas Gerais — com exibições comunitárias e rodas de conversa.



“Eu não prometo nada. O filme não tem o poder de transformar sozinho, mas é uma das expressões de um grande movimento de resistência em Minas Gerais”, afirmou Filippi.



“Rejeito” estreou na primeira quinzena de novembro, coincidindo com os dez anos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). Desde 2023, o documentário circula por festivais ambientais no Brasil e no exterior, incluindo o Festival do Rio, onde recebeu destaque da crítica.




Posição da Vale


A Vale S.A., principal mineradora atuante em Minas Gerais, foi procurada pela reportagem e se posicionou sobre as críticas apresentadas no filme.


Em nota, a empresa afirmou que atua para mitigar impactos sociais e ambientais, mantendo canais de diálogo e engajamento com comunidades e promovendo ações de desenvolvimento local.


Segundo o comunicado, a Vale “atua tanto no contexto da reparação de Brumadinho quanto em suas operações regulares, priorizando a gestão de riscos, o respeito aos direitos humanos e às especificidades socioculturais das comunidades afetadas”.


A mineradora destacou ainda seu investimento em cultura, com apoio a artistas locais, projetos de preservação do patrimônio histórico e a criação de um museu em Mariana.




Um filme que ecoa as vozes do território


Mais do que um documentário, “Rejeito” se coloca como testemunho e resistência de um povo que luta para permanecer em suas terras diante do poder das mineradoras. A obra escancara as consequências humanas do medo, a fragilidade da reparação ambiental e a urgência de repensar o modelo de mineração no Brasil.




Pergunta para interação:

Você acredita que o cinema pode ser uma ferramenta eficaz para denunciar violações ambientais e dar voz às comunidades afetadas?




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