Milho segunda safra no Paraná enfrenta seca e perdas apesar de área recorde
Com a segunda maior área plantada da história, produtores paranaenses sofrem com a falta de chuvas, afetando produtividade e elevando custos de produção.

Mesmo com uma das maiores áreas já cultivadas na história do estado, a segunda safra de milho no Paraná sofre os impactos da instabilidade climática. A estiagem prolongada durante o período crucial de desenvolvimento da planta ameaça a produtividade em várias regiões. Dados do Departamento de Economia Rural (Deral) apontam que, embora o plantio tenha avançado em ritmo acelerado, as condições de campo são desfavoráveis para uma grande parcela da produção, o que coloca em alerta os produtores e o mercado agrícola paranaense.
Área recorde de plantio não garante produtividade
Segundo o Deral, o Paraná semeou 2,7 milhões de hectares com milho segunda safra em 2025 — um aumento de 7% em relação à safra anterior, sendo a segunda maior área já registrada no estado para o milho safrinha. Esse crescimento na área cultivada reflete o otimismo dos produtores no início do ciclo, motivado por bons preços de mercado e clima inicialmente favorável.
No entanto, as expectativas de alta produção foram rapidamente substituídas por preocupações diante da falta de chuvas e das altas temperaturas. O problema é ainda mais grave nas lavouras semeadas no fim de fevereiro e início de março.
Impacto direto nas lavouras: perdas visíveis no campo
Um exemplo claro dessa realidade é vivido pelo produtor Ari Diefenthaeler, em Cafelândia, no oeste paranaense. Ele cultivou 600 hectares com milho, mas em pelo menos 60 hectares os prejuízos já são evidentes.
“Com essa falta de chuva e altas temperaturas, a planta ficou ‘travada’ por um determinado período. Isso agravou o ataque de pragas, fazendo com que a gente precisasse gastar mais, aplicando mais inseticida. Isso reduz a nossa produtividade e rentabilidade", relata o agricultor.
Na prática, os impactos da seca resultaram em espigas menores, com menos fileiras e grãos, o que compromete seriamente o rendimento por hectare. Em uma das áreas de sua propriedade que recebeu maior volume de chuvas, Ari estima colher até 130 sacas por hectare. Já na outra, plantada com poucos dias de diferença, o potencial produtivo é bem menor.
Dados do Deral revelam quadro preocupante
O boletim agropecuário do Deral mostra um cenário dividido:
63% das lavouras estão em condição boa
23% em condição mediana
14% em condição ruim, o que equivale a cerca de 370 mil hectares
Essa última parcela deve não atingir a produtividade mínima esperada, comprometendo a rentabilidade e o volume total da colheita.
O analista Edmar Gervasio, do Deral, explica que já há estimativas de 240 mil toneladas de milho que deixarão de ser colhidas nesta safra. Isso representa uma queda de 1,5% em relação à projeção inicial, com expectativa atual de produção em torno de 16 milhões de toneladas. E os números ainda podem piorar.
“Nos próximos relatórios, esse número vai aumentar, porque as condições de campo não são favoráveis em boa parte do estado para o milho segunda safra”, avalia Gervasio.
Desafios climáticos: além da seca, risco de geadas e chuvas em excesso
Se por um lado a falta de chuva já afetou parte significativa das lavouras, por outro, a preocupação com eventos extremos nos próximos meses também ronda os produtores. O milho safrinha é especialmente sensível às geadas do outono, que podem ocorrer entre maio e junho. Além disso, chuvas em excesso durante o enchimento de grãos também representam risco.
A expectativa é de um outono mais seco, mas com temperaturas baixas em determinados períodos — o que pode elevar o risco de geadas localizadas, principalmente nas regiões sul e centro-sul do Paraná.
Consequências econômicas e impacto nos custos de produção
O cenário climático adverso não apenas compromete o volume colhido, mas também eleva os custos de produção. A necessidade de mais aplicações de inseticidas e fungicidas, como relatado por Diefenthaeler, pressiona as margens dos produtores. Além disso, a expectativa de rentabilidade menor pode desincentivar investimentos futuros.
Esse cenário afeta não só os produtores, mas também a cadeia agroindustrial do milho, incluindo cooperativas, indústrias de ração, confinamentos e exportadores.
Curitiba e o reflexo no mercado estadual
A capital paranaense, apesar de distante das grandes lavouras, também sente os reflexos do campo. A redução na produção do milho pode impactar o preço de alimentos derivados, especialmente carnes, já que o milho é base da alimentação animal. Isso tende a pressionar a inflação de alimentos, com impacto direto nos consumidores da região metropolitana de Curitiba.
Perspectivas para o próximo ciclo agrícola
Enquanto essa safra segue em desenvolvimento, os olhos dos produtores e técnicos já se voltam para o planejamento do próximo ciclo. A lição deixada por 2025 é clara: a dependência do clima exige estratégias mais resilientes, como seguro agrícola, tecnologias de irrigação, cultivares mais adaptadas e gestão de risco.
A expectativa também é de que, com as mudanças no padrão climático, instituições como o Deral e o Simepar consigam oferecer previsões cada vez mais precisas, para que decisões de plantio e manejo sejam mais assertivas.
Conclusão
A segunda safra de milho no Paraná de 2025 simboliza o paradoxo do agronegócio brasileiro: amplas áreas cultivadas, mas alta vulnerabilidade climática. A resiliência dos produtores é colocada à prova ano após ano, e a safra atual evidencia a necessidade de investimentos contínuos em tecnologia, pesquisa e políticas públicas de suporte ao campo.
A situação merece atenção não só dos agricultores, mas também das autoridades estaduais e federais, já que o Paraná é um dos principais polos produtores de milho do país. As decisões que forem tomadas agora podem garantir não apenas a sustentabilidade econômica do setor, mas também a segurança alimentar nacional.
👉 Canal do Facebook
🔗 Portal Notícias de Curitiba
COMENTÁRIOS