Número de casamentos cai e divórcios aumentam no Brasil, segundo IBGE
Com menos uniões civis e mais dissoluções, dados do IBGE revelam transformações profundas nos modelos familiares brasileiros — com impactos diretos em Curitiba e em todo o Paraná.

Menos casamentos, mais divórcios: os dados do IBGE que revelam um novo Brasil
O número de casamentos no Brasil recuou em 2023, registrando 940,8 mil uniões civis, segundo a Pesquisa de Estatísticas do Registro Civil do IBGE. Esse número representa uma queda de 3% em comparação com o ano anterior, e marca o retorno de uma tendência de diminuição iniciada ainda antes da pandemia. Em contrapartida, os divórcios voltaram a subir, com 440,8 mil registros — crescimento de 4,9% em relação a 2022.
Esses dados não apenas confirmam mudanças nos hábitos e comportamentos sociais da população, mas também refletem o impacto de decisões judiciais e legislativas importantes. Em Curitiba e em diversas cidades do Paraná, esse novo retrato das famílias brasileiras já pode ser percebido em cartórios, tribunais e no cotidiano das pessoas.
Evolução histórica: casamento em queda desde 2015
O Brasil vem registrando uma queda gradual no número de casamentos desde 2015, quando o total chegou a 1,137 milhão. Com exceção de breves recuperações nos anos de 2021 e 2022, o cenário é de retração:
Ano | Número de casamentos |
---|---|
2015 | 1,137 milhão |
2019 | 1,025 milhão |
2020 | 757 mil |
2021 | 932,5 mil |
2022 | 970 mil |
2023 | 940,8 mil |
Uniões homoafetivas: avanços e estatísticas
Desde 2013, ano em que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou a Resolução 175 impedindo cartórios de se recusarem a converter uniões estáveis homoafetivas em casamentos, os registros de casamentos entre pessoas do mesmo sexo passaram a fazer parte oficialmente das estatísticas do IBGE.
Em 2023, foram registrados 11,2 mil casamentos homoafetivos, o equivalente a 1,2% do total. Embora ainda representem uma pequena parcela das uniões civis, esses dados consolidam a conquista de direitos civis fundamentais para a população LGBTQIA+.
Curitiba, inclusive, tem se destacado nacionalmente como uma das cidades com maior proporção de casamentos homoafetivos no país, reflexo de sua postura mais progressista em temas de diversidade e inclusão.
Casamentos mais tardios e menos tradicionais
Outro dado revelador da pesquisa está na idade média dos cônjuges:
Mulheres: 29,2 anos
Homens: 31,5 anos
Casais homoafetivos: homens (34,7 anos), mulheres (32,7 anos)
O levantamento mostra que os brasileiros estão se casando mais tarde. O percentual de cônjuges com 40 anos ou mais cresceu significativamente nas últimas duas décadas:
Homens com 40+: de 13% em 2003 para 31,3% em 2023
Mulheres com 40+: de 8,2% para 25,1%
Além disso, o perfil dos casamentos está mudando. Em 2003, 86,9% dos casamentos eram entre pessoas solteiras. Em 2023, esse número caiu para 68,7%, com aumento nos registros entre pessoas divorciadas ou viúvas.
Taxa de nupcialidade em queda: o que isso significa?
A taxa de nupcialidade – que relaciona o número de casamentos à população com 15 anos ou mais – caiu para 5,6 em 2023. Para comparação, em 1980 esse índice era de 12,2. Essa queda mostra que o casamento formal perdeu protagonismo como modelo de união, sendo substituído muitas vezes por uniões estáveis, convivências informais ou mesmo relações independentes de rótulos jurídicos.
Divórcios em alta: reflexo de leis e liberdade
Ao contrário dos casamentos, os divórcios aumentaram no Brasil. Em 2023, foram 440,8 mil registros, crescimento de 4,9% frente a 2022. Do total, 81% foram judiciais e 18,2% extrajudiciais.
Ano | Número de divórcios |
---|---|
2009 | 174,7 mil |
2010 | 239 mil |
2011 | 347,6 mil |
2018 | 385,2 mil |
2022 | 420 mil |
2023 | 440,8 mil |
2016: 2,4
2019: 2,5
2020: 2,1 (queda devido à pandemia)
2022 e 2023: 2,8
Segundo Klivia de Oliveira, as mudanças legais – como a Emenda Constitucional de 2010, que eliminou a exigência de separação prévia – facilitaram o processo de divórcio. "Hoje, não é necessário passar por um processo de separação judicial para depois pedir o divórcio. Isso tornou a dissolução do casamento mais acessível e rápida", explica.
Casamentos mais curtos: duração média cai
Em 2010, o tempo médio entre casamento e divórcio era de 15,9 anos. Em 2023, essa média caiu para 13,8 anos. Também se observou uma diferença de idade entre os cônjuges no momento do divórcio:
Homens: 44,3 anos
Mulheres: 41,4 anos
Essa tendência aponta para uma redução na longevidade dos casamentos e maior aceitação da separação como parte natural da trajetória conjugal.
Guarda compartilhada: nova realidade nas famílias brasileiras
A guarda dos filhos após o divórcio também está passando por mudanças. Desde 2014, com a Lei nº 13.058, passou a ser priorizada a guarda compartilhada. Os dados confirmam essa transformação:
Guarda da mãe: caiu de 85,1% (2014) para 45,5% (2023)
Guarda compartilhada: subiu de 7,5% para 42,3%
Guarda do pai: caiu de 5,5% para 3,3%
Os dados mostram que a presença ativa de ambos os genitores é cada vez mais comum e socialmente incentivada, refletindo também nas decisões judiciais em Curitiba e no Paraná.
Impactos locais: como Curitiba acompanha essa transformação
Em Curitiba, especialistas em direito de família, psicólogos e lideranças comunitárias têm observado um aumento na procura por uniões estáveis, especialmente entre jovens que priorizam flexibilidade e autonomia. Ao mesmo tempo, cresce a demanda por mediações extrajudiciais de divórcio, muitas delas realizadas diretamente em cartórios.
Além disso, o número de registros de guarda compartilhada tem aumentado nos fóruns da capital paranaense, acompanhando a tendência nacional. Escolas e serviços públicos também têm se adaptado a essa nova configuração familiar, adotando linguagem inclusiva e políticas que respeitam diferentes arranjos familiares.
Conclusão: o Brasil em transformação
Os dados do IBGE escancaram uma realidade que já vinha se desenhando há anos: o modelo tradicional de casamento está dando lugar a uma multiplicidade de formas de união, dissolução e convivência. Em Curitiba, essas mudanças têm efeitos diretos na vida das famílias, na justiça, na educação e nos serviços públicos.
A liberdade de escolha e a valorização da autonomia pessoal marcam uma nova era nas relações afetivas no Brasil. Ao mesmo tempo, as instituições precisam acompanhar esse movimento, oferecendo estrutura e acolhimento para todos os tipos de famílias.
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