China investe R$ 27 bilhões no Brasil: veja setores e impactos locais
Anúncio feito em Pequim fortalece setores estratégicos como energia, tecnologia, logística e agronegócio. Especialistas veem avanço, mas alertam para necessidade de diversificação de parcerias internacionais.

China investe R$ 27 bilhões no Brasil: veja setores e impactos locais
Um dos maiores aportes internacionais das últimas décadas fortalece economia brasileira, mas especialistas pedem atenção à diversificação de parcerias
O Brasil acaba de se tornar protagonista de um dos maiores pacotes de investimento internacional dos últimos anos: R$ 27 bilhões vindos da China. O anúncio, feito em Pequim no Seminário Empresarial China-Brasil, contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros, autoridades chinesas e mais de 700 empresários.
A notícia movimentou a cena econômica e política nacional. Os valores devem ser injetados em áreas estratégicas como infraestrutura, energia renovável, tecnologia, saúde e agronegócio, reforçando a posição da China como o principal parceiro comercial do Brasil.
Para especialistas, o investimento é positivo e necessário, mas deve vir acompanhado de uma estratégia diplomática equilibrada para evitar a dependência econômica de apenas uma potência.
Onde serão aplicados os R$ 27 bilhões da China?
Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), os recursos anunciados estão distribuídos entre empresas de setores variados:
R$ 6 bilhões da montadora GWM, para ampliação das operações e exportações na América do Sul;
R$ 5 bilhões da Meituan, com geração estimada de 100 mil empregos indiretos no setor de delivery;
R$ 3 bilhões da CGN, para criação de um hub de energia renovável no Piauí;
R$ 5 bilhões da Envision, para o primeiro Parque Industrial Net-Zero da América Latina;
R$ 3,2 bilhões da rede Mixue, com previsão de 25 mil empregos até 2030;
R$ 2,4 bilhões da Baiyin, que adquiriu a mina de cobre Serrote, em Alagoas;
R$ 1 bilhão da DiDi, em infraestrutura para veículos elétricos;
R$ 650 milhões da Longsys, focados na produção de semicondutores;
R$ 350 milhões para uma parceria entre a Nortec Química e empresas chinesas no setor farmacêutico.
Impacto na economia brasileira
O professor Roberto Uebel, da ESPM, destaca que os recursos beneficiam quatro pilares centrais da economia brasileira: infraestrutura, energia, tecnologia e agronegócio.
“Esses quase R$ 30 bilhões estão entre os maiores investimentos chineses no mundo nos últimos anos e um dos maiores que o Brasil já recebeu do exterior nas últimas décadas”, afirma.
A professora Cristina Helena Mello, da PUC-SP, reforça que o movimento é estratégico, principalmente diante das instabilidades comerciais globais impulsionadas por tarifas e conflitos comerciais promovidos por países como os Estados Unidos.
Relação comercial entre Brasil e China em números
A China é o maior parceiro comercial do Brasil.
Em 2024, o comércio bilateral chegou a US$ 158 bilhões.
O Brasil exportou US$ 94,4 bilhões e importou US$ 63,6 bilhões, gerando um superávit de US$ 30,7 bilhões.
O país asiático é o principal comprador de produtos como soja, carnes, celulose, algodão e açúcar.
Oportunidades e desafios: especialistas analisam
Apesar do otimismo, há alertas importantes.
Segundo Cristina Mello, é necessário qualificar melhor o perfil das exportações brasileiras. Atualmente, grande parte da pauta se baseia em produtos primários, o que torna o país vulnerável a flutuações do mercado internacional.
“Exportamos basicamente produtos da agricultura e da mineração. Há pouco espaço para manufaturados brasileiros”, explica.
Além disso, ela reforça a urgência de melhorias na infraestrutura logística, essencial para ampliar a competitividade do Brasil nos mercados internacionais, especialmente em grãos e proteínas animais.
Diversificação é estratégica
Para o professor Roberto Uebel, o Brasil precisa continuar apostando na diversificação de parceiros comerciais, mesmo com os investimentos robustos da China.
“O Brasil precisa ter cuidado ao se aproximar da China nesse contexto de guerra tarifária. Não pode prejudicar suas relações com os EUA”, pontua.
Uebel defende que o país reforce laços com nações asiáticas como Índia e Japão, além de fortalecer o acordo com o Mercosul e a União Europeia.
Essa visão é compartilhada por Luís Renato Vedovato, da Unicamp:
“Quanto mais irrigado estiver o país comercialmente, mais resiliência terá para enfrentar o futuro”, avalia.
Impactos regionais: o que esperar no Paraná e no Sul do Brasil?
O Paraná pode ser diretamente beneficiado pelos investimentos chineses, especialmente nos setores de agronegócio, energia renovável e tecnologia.
Curitiba, como capital inovadora, pode atrair novos centros de tecnologia e logística, principalmente com a presença de empresas como a Longsys e projetos de infraestrutura da DiDi para veículos elétricos.
Além disso, o estado tem potencial para ser polo de expansão de cadeias de valor da indústria de alimentos e energia, setores presentes no pacote chinês.
Próximos passos e cenário futuro
Com a entrada desses R$ 27 bilhões, o Brasil fortalece sua presença nos setores mais promissores da economia global.
Entretanto, o país precisa acompanhar essa expansão com reformas logísticas, políticas industriais robustas e diplomacia ativa e multilateral, evitando uma dependência excessiva da China ou qualquer outra potência.
No longo prazo, o sucesso dessa parceria dependerá da gestão estratégica dos recursos e da capacidade de o Brasil promover inovação e valor agregado em suas exportações.
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