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Curitiba,19/05/2025

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    CAPS no DF: Arte e tratamento no Dia da Luta Antimanicomial

    No Dia Nacional da Luta Antimanicomial, pacientes dos Centros de Atenção Psicossocial do Distrito Federal mostram como a arte e o cuidado em liberdade se tornam caminhos de transformação e dignidade.

    Agência Brasil
    CAPS no DF: Arte e tratamento no Dia da Luta Antimanicomial Cartões postais e materiais de divulgação do projeto "Atravessa a Porta", que promove cultura antimanicomial por meio da arte, teatro e audiovisual com pacientes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) no Distrito Federal. Créditos da foto: Foto

    Introdução


    Em pleno coração de Brasília, na emblemática sala do Cine Brasília, uma feira de artesanato foi montada para muito além da venda de produtos: ela representa a vitória da dignidade sobre o isolamento. No Dia Nacional da Luta Antimanicomial, celebrado neste domingo (18), o jovem Marcus Danyel Martins, 22 anos, expõe bordados, crochês e macramês produzidos por ele e outros pacientes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Mais do que uma feira, o espaço é uma vitrine de resistência e renascimento, onde o cuidado em liberdade ganha forma por meio da arte.


    A iniciativa integra o projeto Atravessa a Porta, que há 13 anos transforma vidas com teatro e cinema no CAPS do Paranoá. O trabalho foi premiado neste sábado (17), mostrando como práticas psicossociais têm impacto real na saúde mental e na reinserção social dos usuários.




    A experiência de Marcus Danyel: do hospital ao palco


    Antes de ser acolhido pelo CAPS, Marcus enfrentou repetidas internações psiquiátricas para tratar sua depressão profunda. “No hospital, é muito medicamento e pouca gente conversando com você. Já no CAPS, o pessoal é mais atencioso. Dá até para fazer algumas amizades”, relata.


    Foi no teatro que ele encontrou uma forma de expressão e um caminho de paciência consigo mesmo. Integrante da companhia Atravessa a Porta, ele interpreta, cria e compartilha histórias que vão além da dor — histórias de superação, sensibilidade e pertencimento.




    Atravessa a Porta: teatro como ponte para o mundo


    A companhia cênica Atravessa a Porta, nascida de uma pesquisa de mestrado da psicóloga Amanda Gayatri, já impactou dezenas de vidas. O projeto foi o grande vencedor da Mostra Distrital de Práticas Profissionais 2025, sob o tema “A psicologia na luta pelo cuidado em liberdade: ontem, hoje, sempre!”.


    Amanda explica que o teatro permite ao paciente criar, se expressar e se reconectar com o coletivo. “O ato de criar é integrador. É uma ponte para o mundo e uma forma de mostrar que essas pessoas têm muito a contribuir com sua sensibilidade”, afirma.


    "Capsianos": o longa-metragem protagonizado por pacientes


    Como parte do projeto, foi produzido o longa-metragem Capsianos, exibido neste domingo (18). O filme narra, com atores-pacientes, as rotinas, dores e descobertas de quem frequenta o CAPS. É um exemplo de como a arte pode romper estigmas, gerar empatia e fortalecer redes de apoio.




    A premiação da psicologia no DF e o reconhecimento da luta


    A Mostra de Cinema Antimanicomial Raquel França, realizada no Cine Brasília, premiou as melhores práticas psicossociais do Distrito Federal. A iniciativa é organizada pelo Conselho Regional de Psicologia (CRP-DF) e seu Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas.


    Além da vitória de “Atravessa a Porta”, o segundo lugar ficou com o projeto Maluco Voador, do psicólogo Filipe Willadino Braga, e o terceiro com “A quem pertence a cidade?”, uma proposta de ocupação urbana por usuários do CAPS AD III.


    Durante a cerimônia, a presidente do CRP-DF, Thessa Guimarães, destacou:

    “Ao contrário do que se pensa, a loucura também está associada à produção, criatividade, espontaneidade e contribuição social.”




    Rogério e a redescoberta da convivência


    Outro paciente, Rogério — que prefere não informar o sobrenome nem sua idade — usava uma máscara de fios tecidos por ele mesmo para narrar sua jornada no CAPS. Com frases poéticas e desconexas, ele traduz o sofrimento psíquico com clareza:

    “Era tipo uma faca ali furando o meu pensamento... Tinha um monstro me perseguindo. Só pensava na cura.”


    No CAPS, encontrou acolhimento e, sobretudo, convivência. “Antes eu era tipo um homem das cavernas. Agora estou aprendendo. Lá é um querendo ajudar o outro”, revela.




    Rede de Atenção Psicossocial: o SUS em ação


    A assistência em saúde mental no Brasil é assegurada pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), do Sistema Único de Saúde (SUS), e cobre todas as regiões do país. O modelo prioriza o cuidado em liberdade, com o foco na individualidade e no contexto social de cada paciente.


    Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são a espinha dorsal dessa rede. Com equipes multiprofissionais formadas por psicólogos, terapeutas ocupacionais, médicos, assistentes sociais e outros especialistas, oferecem cuidados integrados e continuados, adaptados às necessidades de cada usuário.


    Caps AD, Caps II, III, Infantil e outros formatos ampliam o acesso e garantem acompanhamento sem internação, salvo em casos excepcionais. Essa estrutura possibilita a reinserção social e familiar dos pacientes, algo que os antigos manicômios, por sua natureza excludente, jamais permitiram.




    A importância do cuidado em liberdade


    O modelo antimanicomial propõe um novo paradigma: substituir o isolamento e a medicalização excessiva por escuta, convivência, criação e cidadania. A arte, nesse contexto, é uma aliada poderosa, pois permite ao sujeito reelaborar traumas, contar suas histórias e recuperar seu lugar no mundo.


    Projetos como Atravessa a Porta não apenas comprovam a eficácia terapêutica dessa abordagem, mas também desafiam o preconceito e promovem a diversidade cultural, mostrando que pessoas com transtornos mentais têm voz, talento e protagonismo.




    Conclusão


    No Distrito Federal, o Dia da Luta Antimanicomial foi marcado por celebrações de autonomia, empatia e criação coletiva. Os CAPS mostram que, quando há investimento, respeito e escuta, é possível construir um cuidado em saúde mental baseado na liberdade, na dignidade e na potência humana.


    A arte produzida por Marcus, Rogério e tantos outros não é apenas terapia: é resistência. É sinal de que estamos avançando, mesmo que aos poucos, rumo a uma sociedade mais justa para quem enfrenta o sofrimento psíquico. Que essa realidade se amplie em Curitiba, no Paraná e em todo o Brasil.




    Para mais notícias sobre saúde mental, políticas públicas e iniciativas sociais no Brasil, acesse: https://www.cff.org.br




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