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Curitiba,14/05/2025

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    Morre Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai e símbolo da esquerda latino-americana

    Ex-guerrilheiro e defensor incansável da justiça social, Pepe Mujica inspirou gerações com seu estilo de vida humilde e visão progressista. Sua morte mobiliza reações emocionadas em toda a América Latina.

    Agência Brasil
    Morre Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai e símbolo da esquerda latino-americana O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica acena durante evento oficial; político ficou conhecido mundialmente por seu estilo de vida simples e compromisso com a justiça social. Créditos: Marcelo Camargo / Agência Brasil



    Aos 89 anos, morreu nesta terça-feira (13), no Uruguai, José Alberto “Pepe” Mujica Cordano. Conhecido mundialmente como “o presidente mais pobre do mundo”, Mujica foi um dos líderes mais admirados da esquerda latino-americana. Sua partida marca o fim de um ciclo político e humano que impactou profundamente o continente.


    A notícia, confirmada pelo atual presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, gerou comoção em toda a região. Em nota oficial, Orsi declarou: “Vamos sentir muito sua falta, velho querido! Obrigado por tudo que nos deste e por teu profundo amor pelo seu povo.”




    Diagnóstico de câncer e últimos dias


    Em abril de 2024, Mujica revelou que havia sido diagnosticado com câncer no esôfago. Com o agravamento da doença, o ex-presidente passou a ter uma rotina reclusa em sua chácara nos arredores de Montevidéu, sob cuidados paliativos.


    Sua esposa, a ex-senadora Lucía Topolansky, confirmou que o tumor havia se espalhado e Mujica estava em estágio terminal. Por conta da saúde fragilizada, ele sequer compareceu às eleições regionais realizadas no último domingo (11).




    A trajetória de um guerrilheiro pela democracia


    Nascido em 1935, em uma família humilde de Montevidéu, Mujica iniciou sua militância política nos anos 1960 ao fundar o grupo Tupamaros, movimento guerrilheiro que combateu a ditadura uruguaia.


    Preso quatro vezes, ferido por seis tiros e confinado por 14 anos — muitos deles em solitárias — Mujica transformou sua dor em aprendizado. Sua história inspirou o filme “Uma Noite de 12 Anos”, de Álvaro Brechner, que retrata os anos de prisão e resistência.




    Da prisão à Presidência: a liderança ética e transformadora


    Com o retorno da democracia ao Uruguai, Mujica ajudou a fundar o Movimento de Participação Popular, integrado à Frente Ampla, aliança progressista que o levaria à Presidência da República (2010–2015).


    Durante seu governo, destacou-se por:




    • Legalização da maconha com regulação estatal;




    • Descriminalização do aborto;




    • Aprovação do casamento igualitário;




    • Ampliação de programas sociais e educacionais;




    • Redução da pobreza de 39% (2004) para 11,5% (2015);




    • Aumento do salário mínimo e distribuição de laptops em escolas públicas.




    Mesmo no cargo mais alto da nação, mantinha seu estilo de vida austero. Morava em uma chácara simples, dirigia um Fusca 1987 e doava grande parte do salário.




    Reconhecimento internacional e exemplo de vida


    Pepe Mujica era admirado por líderes mundiais e pela população em geral. Em dezembro de 2024, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva foi até sua residência para condecorá-lo com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, principal homenagem do Brasil a estrangeiros.


    Lula o definiu como “a pessoa mais extraordinária” que conheceu na política:

    “Essa medalha que eu estou entregando ao Pepe Mujica não é pelo fato de ele ter sido presidente do Uruguai. É pelo fato de ele ser quem é.”

    O ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, recebe o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua chácara nos arredores de Montevidéu, durante cerimônia de entrega da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul – 5 de dezembro de 2024.


    Créditos: Ricardo Stuckert / Presidência da República


    Valores e filosofia: a política como missão de vida


    Com discursos recheados de reflexões filosóficas, Mujica chamava atenção por sua capacidade de emocionar e provocar. Em entrevista ao jornal El País, em novembro de 2024, disse:



    “Me dediquei a mudar o mundo e não mudei nada, mas me diverti. E gerei muitos amigos e muitos aliados nessa loucura de mudar o mundo para melhorá-lo. E dei sentido à minha vida.”





    A visão de integração latino-americana


    Mujica sempre defendeu a união dos países da América Latina como forma de fortalecer a soberania da região diante das grandes potências mundiais. Participou ativamente de fóruns e encontros sobre integração regional.


    Em outubro de 2023, durante evento em Foz do Iguaçu (PR), afirmou:



    “Ou nos integramos, ou não somos nada. Para defender a pouca soberania que nos resta, se não nos unirmos, não existimos.”





    Saída da política e legado


    Eleito senador novamente em 2019, Mujica renunciou ao cargo em 2020, alegando idade avançada e preocupações com a pandemia da Covid-19. “Há uma hora de chegar e uma hora de partir na vida”, declarou.


    A Frente Ampla, grupo político ao qual Mujica era vinculado, retornou ao poder em março de 2025 com Yamandú Orsi, após vencer as eleições presidenciais em novembro do ano anterior.




    Conclusão: um legado que ultrapassa fronteiras


    A história de José Mujica não se encerra com sua morte. Sua trajetória continuará a inspirar movimentos populares, lideranças políticas e cidadãos comuns em toda a América Latina.


    Pepe nos deixou, mas seus ensinamentos sobre empatia, ética e serviço público continuam vivos. O mundo perdeu um presidente, mas a humanidade ganhou um exemplo eterno de dignidade.




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