Brasil e França rumo a um novo ciclo econômico: Lula propõe metas ousadas para comércio bilateral
O presidente Lula defendeu metas para dobrar o comércio entre Brasil e França em 10 anos, apostando em investimentos conjuntos e no fortalecimento do acordo Mercosul-União Europeia.

Introdução: Brasil e França em busca de uma nova era de cooperação econômica
Imagine um cenário onde dois países com histórias, culturas e economias tão distintas quanto Brasil e França decidem não apenas manter relações diplomáticas, mas ousar traçar metas concretas para crescer juntos. Foi exatamente essa proposta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez durante sua visita oficial à França, ao participar do Fórum Econômico Brasil-França, um evento que reuniu autoridades e empresários de ambos os lados do Atlântico.
Com o comércio bilateral ainda considerado tímido — girando em torno de US$ 9,1 bilhões — Lula não apenas chamou a atenção para a necessidade de avanços, mas lançou um plano audacioso: alcançar US$ 20 bilhões em trocas comerciais nos próximos dez anos. A comparação com países como o Vietnã, que já movimenta US$ 13 bilhões com o Brasil, acendeu um alerta.
Mas afinal, por que esse comércio é tão baixo? O que impede Brasil e França, duas economias robustas e complementares, de se conectarem mais profundamente? E o que muda com esse plano de metas proposto por Lula? Neste artigo, vamos explorar todos os detalhes dessa proposta, os desafios históricos do acordo Mercosul-União Europeia e as oportunidades concretas que se desenham no horizonte.
Brasil e França: uma relação econômica aquém do potencial
Comércio bilateral ainda limitado
Apesar dos laços históricos e da forte presença de empresas francesas em território brasileiro — como Carrefour, Renault, L’Oréal e TotalEnergies — o volume de comércio entre Brasil e França ainda está longe de refletir todo o potencial da relação.
Segundo dados de 2024, o fluxo comercial entre os dois países está na casa dos US$ 9,1 bilhões. Isso representa uma fatia modesta se comparado com o comércio do Brasil com outros países de menor expressão geopolítica, como o Vietnã, cuja balança alcança US$ 13 bilhões.
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A proposta de Lula: metas claras para dobrar o comércio até 2034
Plano de metas: ambição pragmática
Durante a sessão de encerramento do Fórum Econômico Brasil-França, Lula foi direto:
“Vamos sair daqui lançando um plano de metas: nos próximos 10 anos vamos chegar a US$ 20 bilhões e trabalhar para isso. Porque se não tiver plano de metas e a gente só fizer as coisas quando a natureza permitir, não dá certo.”
Com essa frase, o presidente buscou mobilizar os setores empresariais para uma abordagem proativa. Lula destacou que a ampliação do comércio entre os dois países não pode ser deixada ao acaso, mas precisa de esforço conjunto, planejamento estratégico e comprometimento político.
Essa proposta, que mira um comércio bilateral de US$ 20 bilhões, é vista como um passo simbólico e prático para destravar uma relação cheia de potencial, mas marcada por obstáculos históricos e falta de metas objetivas.
Setores estratégicos para impulsionar a parceria Brasil-França
1. Transição energética
O Brasil tem se destacado globalmente como líder na produção de energia limpa, principalmente hidrelétrica, solar e eólica. A França, por sua vez, é uma das principais promotoras da agenda ambiental na Europa e investe fortemente em energias renováveis.
Essa complementaridade abre um leque de possibilidades:
Coprodução de tecnologias verdes
Investimentos franceses em infraestrutura energética brasileira
Parcerias para a produção de hidrogênio verde
2. Indústria da saúde
Com o envelhecimento da população mundial e os desafios impostos por pandemias e doenças crônicas, a indústria da saúde desponta como área-chave.
O Brasil possui um mercado amplo e demanda crescente por inovações na área médica, enquanto a França é um dos polos mundiais em biotecnologia e farmacêutica. Investimentos conjuntos poderiam trazer benefícios mútuos, especialmente em:
Pesquisa e desenvolvimento (P&D)
Parques tecnológicos e polos de inovação
Transferência de tecnologia
3. Defesa e segurança
A França é um dos maiores exportadores de equipamentos de defesa do mundo. O Brasil, por sua vez, tem buscado modernizar suas Forças Armadas, inclusive com a construção de submarinos em parceria com empresas francesas.
Fortalecer essa relação pode gerar:
Geração de empregos altamente qualificados
Capacitação técnica e tecnológica
Fortalecimento da indústria nacional de defesa
4. Agronegócio e alimentos
Lula destacou que há um receio, principalmente por parte dos agricultores franceses, de que o acordo com o Mercosul possa prejudicar sua competitividade. Porém, o presidente brasileiro rebateu:
“Se nós colocarmos os agricultores franceses junto com os brasileiros, vai ter uma descoberta extraordinária. Eles vão descobrir que as nossas agriculturas são complementares. Uma não prejudica a outra.”
O agronegócio brasileiro é uma potência, e há espaço para:
Exportação de produtos tropicais para a França
Cooperação em tecnologias agrícolas sustentáveis
Parcerias para alimentos processados e gourmet
O entrave do Acordo Mercosul-União Europeia: desafios e esperanças
Acordo negociado há mais de 20 anos
Desde 1999, Mercosul e União Europeia negociam um acordo de livre comércio que já passou por diversas fases, adiamentos e impasses. Em 2019, foi anunciado o fechamento técnico do acordo, mas sua ratificação segue travada, especialmente por pressões políticas e ambientais.
A resistência francesa
A França tem se posicionado com cautela, alegando preocupações com:
Desmatamento na Amazônia
Padrões ambientais da produção agrícola sul-americana
Competitividade de seus agricultores frente aos brasileiros
Para o governo francês, liderado por Emmanuel Macron, o acordo ainda precisa incorporar cláusulas mais rígidas em termos de sustentabilidade e rastreabilidade de produtos.
O contraponto de Lula
Lula reforçou o compromisso do Brasil com o combate ao desmatamento, a regeneração de pastagens degradadas e o desenvolvimento sustentável. Além disso, prometeu trabalhar para a finalização do acordo durante a presidência brasileira do Mercosul, no segundo semestre de 2025.
Ele também destacou a visão de que o protecionismo europeu, especialmente o francês, ignora as complementaridades econômicas entre os blocos e pode impedir avanços benéficos para ambos os lados.
Oportunidades e próximos passos: o que esperar da relação Brasil-França?
Visita empresarial francesa ao Brasil
Um dos principais sinais de avanço prático é a visita planejada por Laurent Saint-Martin, ministro de Comércio Exterior da França, ao Brasil no final deste mês. A comitiva incluirá empresários interessados em setores estratégicos como:
Energias renováveis
Saúde
Mundo digital
Infraestrutura e logística
Essa movimentação indica disposição concreta da França em estreitar laços econômicos com o Brasil, mesmo em meio às divergências políticas sobre o acordo Mercosul-UE.
Conclusão: uma chance de recomeço com metas claras
A fala firme e inspiradora do presidente Lula, ao propor metas comerciais entre Brasil e França, marca um possível ponto de virada na relação econômica entre os dois países. Em vez de esperar que as circunstâncias mudem por conta própria, a proposta brasileira é agir com estratégia, clareza e ambição.
Com potencial inexplorado em diversos setores — da energia à saúde, do agro à defesa —, essa parceria pode se tornar um exemplo de cooperação econômica sustentável e mutuamente benéfica. O caminho não será simples, mas com metas definidas, esforços coordenados e vontade política, o futuro pode reservar um novo patamar de integração para Brasil e França.
Agora, a bola está com os empresários, autoridades e diplomatas de ambos os países. E, claro, com os cidadãos, que são os maiores beneficiados quando a diplomacia se transforma em empregos, inovação e desenvolvimento.
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