Polícia do Rio falha em apurar mortes da Operação Contenção, diz ONG
Human Rights Watch denuncia omissões investigativas em operação com 121 mortes, majoritariamente de negros e pobres.
Tomaz Silva/Agência Brasil A Organização Não Governamental Human Rights Watch afirmou nesta quarta-feira (29) que a Polícia do Rio de Janeiro cometeu falhas “cruciais” na apuração das 121 mortes ocorridas durante a Operação Contenção, realizada em 28 de outubro nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da capital fluminense. Segundo a ONG, a negligência nas investigações revela um “desinteresse proposital” pelas vítimas, majoritariamente negras e de baixa renda.
Falhas investigativas e desafios na apuração
De acordo com a Human Rights Watch, a polícia não preservou os locais dos tiroteios para análise pericial — uma etapa fundamental para esclarecer as circunstâncias das mortes. A ausência de isolamento das áreas e a coleta inadequada de provas comprometem a possibilidade de verificar se houve confronto ou execuções sumárias. “Etapas cruciais da investigação não foram realizadas e provas importantes podem já ter sido perdidas”, alertou César Muñoz, diretor da ONG no Brasil.
Além da falha técnica, a entidade denuncia viés estrutural nas ações policiais, que tenderiam a desvalorizar vítimas oriundas de comunidades periféricas. A crítica se estende à Defensoria Pública, que enfrentou barreiras de acesso ao Instituto Médico Legal (IML), dificultando a checagem autônoma das circunstâncias dos óbitos.
O que foi a Operação Contenção
A Operação Contenção mobilizou cerca de 2.500 agentes de diferentes batalhões para combater pontos estratégicos do Comando Vermelho. O primeiro dia da ação registrou 64 mortes, inclusive de civis desarmados e crianças. No dia seguinte, outros 57 corpos foram encontrados na Serra da Misericórdia, após uma emboscada promovida pelo Bope, tropa de elite da PM.
As imagens dos corpos, muitas com sinais de tortura e execução, foram divulgadas por moradores que registraram o cenário em vídeos e fotos. Familiares relataram aos jornalistas a presença de marcas de amarração nos punhos e tornozelos das vítimas. Em muitos casos, a população local precisou carregar os corpos até a praça pública, diante da ausência de resposta imediata das autoridades.
Reações, recomendações e impacto social
A Human Rights Watch recomendou que as investigações passem a ser conduzidas pelo Ministério Público, com envolvimento de peritos independentes. Segundo a entidade, o governador do Rio de Janeiro deve apresentar um projeto de lei para garantir a autonomia da perícia criminal, hoje vinculada à Polícia Civil, o que compromete a transparência e a imparcialidade dos laudos.
“O caso mostra a necessidade urgente de investigações independentes e de alta qualidade, que são essenciais em qualquer sistema de justiça criminal”, afirmou Muñoz.
O episódio reacende o debate sobre violência policial, racismo estrutural e segurança pública no Brasil. Em Curitiba e outras capitais, entidades de direitos humanos já pedem maior vigilância sobre operações semelhantes e a criação de protocolos de transparência.
Conclusão reflexiva
A denúncia da Human Rights Watch sobre as falhas nas investigações da Operação Contenção levanta um alerta gravíssimo: o Estado pode estar falhando não apenas em proteger, mas também em reconhecer a humanidade de parte significativa da sua população. Quando os direitos de investigação e justiça são negados a vítimas pobres e negras, perpetua-se um ciclo de impunidade e violência institucional que afeta toda a sociedade brasileira.
PERGUNTA PARA INTERAÇÃO
Você acredita que as investigações policiais no Brasil são conduzidas com isenção, especialmente quando envolvem vítimas da periferia?




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