Fiéis rezam por vítimas da maior operação policial do Rio no Dia de Finados
Paróquia na Penha acolhe moradores em luto após 121 mortos na Operação Contenção; medo e insegurança tomam conta da zona norte
Tânia Rêgo/Agência Brasil No Dia de Finados, fiéis da Penha rezam pelas vítimas da maior operação policial da história do Rio
Paróquia Bom Jesus da Penha acolhe moradores afetados pela violência após 121 mortos na megaoperação policial realizada no Alemão e Vila Cruzeiro
No bairro da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, fiéis se reuniram neste domingo (2), Dia de Finados, para prestar homenagens e orações não apenas aos seus entes queridos, mas também às 121 pessoas mortas durante a Operação Contenção, realizada na última terça-feira (28) nas comunidades do Alemão e da Vila Cruzeiro. A ação é considerada a mais letal da história do estado do Rio de Janeiro.
A Paróquia Bom Jesus da Penha, localizada a cerca de 1 km da Praça São Lucas — local onde corpos foram reunidos após a operação — tornou-se um ponto de acolhimento e solidariedade. A missa foi celebrada pelo padre Marcos Vinícius Aleixo, em seu último dia à frente da paróquia. “Todos que vêm, sejam mães, familiares, amigos, nesse momento de dor, nós temos acolhido, rezado e intercedido por essas pessoas”, disse o sacerdote.
Trauma, medo e ruas vazias: clima de insegurança domina a Penha
Moradores relatam que, desde a operação, o cotidiano do bairro mudou drasticamente. Segundo o padre Marcos Vinícius, a presença nas missas diminuiu por medo de sair de casa. “A insegurança reina no bairro por conta disso. Muitas pessoas ficam com medo de sair, com medo de vir até a missa”, afirmou.
O barulho dos tiros, helicópteros e confrontos deixou marcas profundas. “Traz traumas, traz crise de ansiedade, traz medo às pessoas que lá dentro moram, que são pessoas de bem”, declarou o padre. Ele destacou que muitos moradores não têm condições de sair da comunidade, vivendo cercados por violência e abandono.

O padre Marcos Vinícius Aleixo celebra missa em seu ultimo dia na Paróquia Bom Jesus da Penha. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Operação Contenção: 121 mortos, denúncias de abusos e sensação de impunidade
A Operação Contenção, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Rio, tinha como alvo o Comando Vermelho e visava o cumprimento de 100 mandados de prisão e 180 de busca e apreensão. Foram presos 93 suspeitos em flagrante, mas o saldo da ação levantou preocupações: 121 mortos — entre eles, quatro policiais e 117 civis — e apenas 20 mandados cumpridos até agora.
Relatos de moradores e familiares apontam para possíveis execuções, tortura e a recusa da polícia em aceitar rendições. As denúncias já chamaram a atenção do Conselho de Direitos Humanos da ONU e de entidades nacionais. Em contrapartida, o governo estadual sustenta que todos os mortos estavam armados e reagiram.
Comunidade encurralada entre o crime e o Estado: “A gente não tem paz”
“Você vai pedir um Uber, o Uber não quer entrar aqui porque está na Penha. Olha que absurdo”, disse uma moradora, que preferiu não se identificar. Segundo ela, a presença de criminosos impõe obstáculos no dia a dia — como cobrança de pedágio em vias públicas — enquanto as operações policiais geram medo e sofrimento. “É tranquilidade que eu cobro. A minha cobrança é essa.”
Outro morador aponta que, apesar do medo, a operação trouxe uma sensação de que “algo está sendo feito”. Mas para muitos, a percepção é de que nada muda. “Foi muito ruim para nós, impactou a vida de muita gente, das crianças, foi muito tiroteio”, disse uma mulher que estava no local durante a operação. Quando questionada se acredita que a ação trará resultados, foi direta: “Nada”.
A Secretaria Municipal de Assistência Social montou um plantão de atendimento na Paróquia para acolher as famílias afetadas, prestando apoio psicológico e jurídico aos moradores do Complexo do Alemão e Vila Cruzeiro.
Reflexão: Quando a paz será prioridade nas comunidades do Rio?
A missa do Dia de Finados, marcada pelo luto e pela dor, expôs não apenas o sofrimento de quem perdeu familiares, mas também a rotina de medo e tensão vivida por milhares de moradores da zona norte do Rio. Entre confrontos com o tráfico e ações policiais que extrapolam os limites da legalidade, a população permanece no centro do fogo cruzado.
A tragédia escancara a urgência de políticas públicas mais eficazes e humanas para garantir segurança e dignidade às favelas cariocas. Até quando a paz será uma promessa adiada?

Secretaria municipal de Assistência Social faz plantão de atendimento às famílias do Alemão e Vila Cruzeiro na Paróquia Bom Jesus da Penha, na Penha, zona norte da cidade. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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