Ato lembra os 56 anos da morte de Carlos Marighella
Cerimônia na Alameda Casa Branca relembrou o legado do ex-deputado e guerrilheiro, morto pela ditadura em 1969; familiares e ex-presos políticos participaram.
Militantes e familiares prestam homenagem a Carlos Marighella no local onde ele foi morto, na Alameda Casa Branca, em São Paulo, 56 anos após sua execução pela ditadura militar. — Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil / Divulgação. Militantes e familiares homenageiam Carlos Marighella em São Paulo, 56 anos após sua execução pela ditadura militar; ato relembra legado de resistência e luta por democracia.
Ato relembra o legado de resistência
Militantes de direitos humanos realizaram nesta terça-feira (4), em São Paulo, um ato em homenagem a Carlos Marighella, político, escritor e guerrilheiro assassinado há 56 anos, em 1969, durante a ditadura militar. O encontro ocorreu na Alameda Casa Branca, número 800, endereço onde o líder foi executado por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).
O ato simbólico marcou mais um ano de resistência e memória em torno de Marighella, considerado um dos principais nomes da luta contra o regime autoritário que vigorou no país após o golpe de 1964.
“Meu pai está vivo na juventude”, diz filho de Marighella
Presente na homenagem, Carlos Augusto Marighella, filho único do ex-deputado, destacou a importância de manter viva a memória do pai e das mulheres que o acompanharam na militância, como Clara Charf, uma das líderes mais expressivas do movimento feminino da época.
“A convivência com Clara foi um presente. Eu nunca percebi nela uma única hesitação diante daquele mundo que ela queria construir”, afirmou.
Emocionado, ele lembrou que o assassinato de seu pai ocorreu de forma covarde, mas que o ideal de liberdade continua inspirando novas gerações.
“Meu pai foi assassinado covardemente, aqui nesta rua. Mas o fato é que ninguém se lembra mais dos criminosos que o mataram. O que a gente sabe é que o Marighella está vivo, mobilizando a juventude, nos encantando a todos”, disse.
“Um dos maiores guerreiros do povo brasileiro”
Durante o ato, o ex-preso político Maurice Politi, do Núcleo de Preservação da Memória Política (Núcleo Memória), destacou a relevância histórica do ex-deputado baiano.
“Marighella foi um dos maiores guerreiros do povo brasileiro. Lutou pela libertação deste país, por um país melhor, sem desigualdade. Foi assassinado barbaramente”, afirmou.
O evento, que reuniu familiares, militantes, historiadores e representantes de entidades de direitos humanos, reforçou a necessidade de preservar a memória política como instrumento de resistência democrática.
Trajetória de luta e repressão
De acordo com registros do Memorial da Resistência, Carlos Marighella foi deputado federal constituinte em 1946, eleito com votação expressiva pela Bahia, mas teve o mandato cassado dois anos depois, quando o então presidente Eurico Gaspar Dutra determinou a ilegalidade dos partidos comunistas.
Marighella integrou o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, em 1968, fundou a Ação Libertadora Nacional (ALN), grupo de resistência armada à ditadura.
Preso e torturado diversas vezes — pela ditadura Vargas e depois pelo regime militar —, Marighella sobreviveu a atentados e viveu na clandestinidade. Em 4 de novembro de 1969, foi morto em uma emboscada do DOPS/SP, após ser denunciado por um integrante da ordem dos dominicanos.
Memória silenciada e resgatada
O legado de Marighella tem sido retomado nas últimas décadas por instituições e movimentos sociais que defendem o direito à memória e à verdade.
Em 2021, o filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura e estrelado por Seu Jorge, foi lançado após adiamentos e entraves burocráticos durante o governo federal anterior, quando a equipe acusou a Ancine de censurar a obra. O longa chegou ao circuito brasileiro no aniversário do revolucionário, simbolizando o resgate de uma história por muito tempo silenciada.
Símbolo da resistência democrática
A figura de Marighella segue como símbolo da resistência à opressão e à censura, inspirando novas gerações a refletirem sobre liberdade, justiça social e democracia.
“Para fazer uma sociedade melhor, a gente precisa de gente como ele, para inspirar a juventude”, declarou Carlos Augusto.
Pergunta para o leitor:
Você acredita que o Brasil tem conseguido preservar de forma justa a memória de figuras históricas como Carlos Marighella?




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