Renda média do trabalhador brasileiro atinge recorde histórico e formalidade impulsiona avanço
Com R$ 3.378 de rendimento médio, o Brasil registra a maior média salarial desde 2012; dados apontam também queda na informalidade e crescimento da contribuição previdenciária

Em meio às transformações do mercado de trabalho brasileiro, os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam um marco significativo: o rendimento médio mensal do trabalhador no Brasil alcançou R$ 3.378 — o maior valor já registrado desde o início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), em 2012. A divulgação aconteceu nesta sexta-feira (28), com dados referentes ao trimestre encerrado em fevereiro de 2025.
O novo recorde representa uma alta de 3,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, superando o antigo patamar máximo, observado em janeiro de 2025 (R$ 3.365). Esse crescimento, no entanto, vai além dos números absolutos: os valores são deflacionados, ou seja, consideram os efeitos da inflação e refletem o real poder de compra da população.
Segundo o IBGE, a pesquisa considera trabalhadores a partir dos 14 anos de idade, abrangendo todas as formas de ocupação: empregos formais e informais, temporários, autônomos e por conta própria. A taxa de desemprego foi estimada em 6,8% no trimestre, mantendo-se em patamar historicamente baixo.
Formalidade puxa a renda para cima
A principal explicação para esse avanço na média salarial está relacionada à queda da informalidade. Conforme a coordenadora da pesquisa, Adriana Beringuy, a redução no número de trabalhadores sem carteira assinada, ou sem acesso a direitos básicos como férias remuneradas e 13º salário, teve impacto direto na elevação dos rendimentos.
“Se hoje, na minha população ocupada, eu tenho uma maior proporção de trabalhadores formais do que havia anteriormente, é esperado que essa média aumente, dado que, de modo geral, os trabalhadores formais têm um rendimento maior que os não formais”, explica Beringuy.
A taxa de informalidade caiu de 38,7% para 38,1%, o que, mesmo sendo uma queda considerada "ligeira", representa uma mudança importante no perfil da força de trabalho brasileira.
Esse recuo tem reflexo direto em outros indicadores do mercado, como a cobertura da previdência social, que também atingiu o maior patamar desde 2020. No trimestre encerrado em fevereiro, 67,6 milhões de trabalhadores contribuíam com algum instituto previdenciário, o que representa 65,9% dos ocupados.
Mesmo profissionais por conta própria e informais podem optar por contribuir com a previdência — e, segundo o IBGE, esse comportamento vem crescendo em meio à busca por maior segurança futura.
Administração pública e sazonalidade no mercado
Apesar do crescimento da renda média, o número total de pessoas ocupadas sofreu uma leve retração, caindo para 102,7 milhões de brasileiros — queda de 1,2% em comparação ao trimestre anterior (encerrado em novembro de 2024).
Grande parte dessa redução veio do setor público. A área de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde e assistência social perdeu cerca de 468 mil ocupações, especialmente contratos temporários encerrados no início do ano.
De acordo com a coordenadora da pesquisa, esse comportamento é sazonal:
“Foi o segmento do setor público com os menores rendimentos, que são aqueles dos contratos temporários, como os profissionais da educação fundamental”, esclarece Beringuy. “Com o corte de trabalhadores de menor remuneração, a média salarial naturalmente tende a subir.”
Salário mínimo também influencia
Outro fator que contribuiu para o aumento do rendimento médio, ainda que de forma mais discreta, foi o reajuste do salário mínimo nacional para R$ 1.518, válido desde janeiro de 2025.
Segundo o IBGE, o salário mínimo funciona como uma espécie de "piso" de referência, influenciando inclusive a remuneração de trabalhadores informais.
“O salário mínimo é um balizador importante no mercado de trabalho, principalmente entre os trabalhadores informais”, observa Beringuy.
R$ 342 bilhões: a força da massa salarial na economia
A pesquisa do IBGE também aponta um recorde na massa de salários, que atingiu a marca de R$ 342 bilhões. Esse indicador representa a soma de todos os rendimentos recebidos pelos trabalhadores brasileiros — um valor que cresceu 6,2% em um ano, com acréscimo de R$ 20 bilhões.
A massa salarial é considerada um motor da economia: quanto mais recursos estão disponíveis na mão dos trabalhadores, maior tende a ser o consumo, o investimento e a movimentação do mercado interno.
Para especialistas, essa combinação de aumento real nos rendimentos, redução da informalidade e maior adesão à previdência social aponta para uma melhora qualitativa no mercado de trabalho brasileiro — ainda que desafios como a desigualdade salarial e o acesso ao emprego formal em regiões menos desenvolvidas sigam sendo obstáculos persistentes.
E em Curitiba? Reflexos locais da tendência nacional
Embora os dados divulgados sejam de abrangência nacional, os efeitos são sentidos nas capitais e regiões metropolitanas, como Curitiba. A capital paranaense, tradicionalmente reconhecida por seus índices elevados de formalização e educação, tende a estar entre as cidades que mais se beneficiam desse novo cenário.
Segundo dados regionais mais recentes do IBGE e do Dieese, Curitiba apresenta rendimento médio superior à média nacional, com destaque para setores como tecnologia, saúde, educação e serviços especializados.
Além disso, o Paraná tem registrado níveis de informalidade abaixo da média nacional, o que reforça a tendência de elevação no rendimento médio. A atuação de políticas públicas estaduais e municipais para qualificação profissional também contribui para esse quadro positivo.
Conclusão: um novo ciclo de valorização do trabalho?
Com o aumento da renda média, a redução da informalidade e o crescimento da massa salarial, o Brasil parece entrar em um novo ciclo de valorização do trabalho. Ainda que o movimento seja gradual e pontuado por oscilações sazonais, os indicadores sugerem uma melhoria consistente no poder de compra da população.
Resta saber se esse ritmo será mantido nos próximos trimestres e como o cenário econômico — incluindo inflação, política monetária e investimentos públicos — influenciará a consolidação dessas conquistas.
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