Conclave começa nesta quarta: sucessão de Francisco mobiliza 133 cardeais em Roma
A sucessão do papa Francisco, falecido no mês passado, reúne cardeais de todo o mundo em um conclave histórico, marcado por debates entre continuidade progressista e retorno às tradições.
Por Fabiano Alves
05/05/2025 | Atualizado em 05/05/2025 - 18h28
Cardeais chegam ao Vaticano para as reuniões preparatórias antes do início do conclave. Créditos: © Reuters / Guglielmo Mangiapane Com a chegada dos 133 cardeais eleitores a Roma, o Vaticano se prepara para um dos momentos mais decisivos da Igreja Católica: o conclave que escolherá o novo papa. A morte de Francisco em 21 de abril encerrou um dos papados mais transformadores da história recente. Agora, os olhos do mundo se voltam para a Capela Sistina, onde, a partir desta quarta-feira (7), terá início o processo que definirá o novo líder espiritual de 1,4 bilhão de católicos.
O evento, marcado por discussões internas e tensões ideológicas, também gera expectativa entre fiéis de Curitiba e do Brasil, onde a influência do papa é significativa na condução de debates sociais e religiosos.
Cardeais em Roma: Quem pode votar
O Vaticano confirmou nesta segunda-feira (5) que os 133 cardeais com direito a voto já estão em Roma. São elegíveis ao conclave os cardeais com menos de 80 anos. Dois prelados — um da Espanha e outro do Quênia — ficaram de fora por problemas de saúde.
No total, 180 cardeais participaram das reuniões preparatórias, embora nem todos possam votar. As sessões, realizadas desde o dia 22 de abril, serviram para debater os rumos da Igreja e os desafios do próximo pontífice.
Principais pontos debatidos:
Transparência e acolhimento como legado de Francisco
Divisões internas sobre doutrinas e costumes
Expectativa por um líder próximo da vida real das pessoas
Papel das mulheres na Igreja
Bênçãos a casais do mesmo sexo
Francisco e seu legado: ponto de partida do conclave
O papa Francisco, primeiro latino-americano a ocupar o trono de Pedro, será lembrado por sua tentativa de humanizar a Igreja. Sua gestão deu abertura a temas sensíveis, como:
Tolerância com relação à homossexualidade
Discussão sobre o papel das mulheres
Fortalecimento da presença da Igreja em países periféricos
Enfrentamento da crise de abusos sexuais
Em Curitiba, Francisco era admirado por suas posições firmes, mas acessíveis. Muitas paróquias da capital paranaense, como a Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz, já realizam missas em homenagem ao papa falecido, relembrando suas visitas à América Latina e sua conexão com os pobres.
Cenário atual: Igreja dividida
A escolha do novo papa ocorre em meio a divergências internas.
Duas alas principais emergem entre os cardeais:
Progressistas: desejam continuidade às reformas de Francisco
Conservadores: defendem um retorno à ortodoxia doutrinária
As divisões ganharam destaque nas reuniões desta segunda-feira. O porta-voz do Vaticano citou “forte preocupação” com as tensões internas. Entre os pontos sensíveis está a decisão de Francisco de permitir bênçãos a parceiros do mesmo sexo — tema que divide profundamente os cardeais.
Favoritos à sucessão
Embora o Espírito Santo seja considerado a verdadeira inspiração da escolha, nomes já despontam como favoritos:
🟩 Cardeal Pietro Parolin (Itália)
Atual secretário de Estado do Vaticano
Experiência diplomática e bom trânsito entre alas conservadoras e progressistas
🟦 Cardeal Luis Antonio Tagle (Filipinas)
Próximo a Francisco
Popular entre jovens e comunidades periféricas
Representa a crescente influência da Ásia na Igreja
Outros nomes mencionados:
Cardeal Jean-Claude Hollerich (Luxemburgo)
Cardeal Peter Turkson (Gana)
Cardeal Matteo Zuppi (Itália)
Segundo o cardeal britânico Vincent Nichols, "muitos ainda não se decidiram". Ele relata que sua lista de possíveis candidatos “continua a mudar”.
O Conclave: como funciona
O conclave ocorre na Capela Sistina, com total isolamento dos cardeais. Eles são hospedados em casas do Vaticano e privados de qualquer contato com o mundo exterior.
Regras do conclave:
Só cardeais com menos de 80 anos votam
É necessário obter 75% dos votos (pelo menos 100 cardeais) para eleger o papa
Há até quatro rodadas de votação por dia
Ao ser eleito, o novo papa é anunciado com a tradicional "fumata branca"
Curiosidade:
Em média, os conclaves duram entre 2 e 5 dias. O mais longo dos tempos modernos foi o de 1830-1831 (50 dias). O mais rápido, em 2005, levou apenas dois dias para eleger Bento XVI.
Impacto global e local da escolha papal
A escolha do novo papa impacta diretamente a atuação da Igreja Católica em países como o Brasil — onde vive a maior população católica do mundo. No Paraná, onde há mais de 8 milhões de habitantes, a maioria se declara católica. O novo pontífice poderá influenciar diretamente:
Políticas sociais apoiadas pela Igreja
Diálogo com minorias e comunidades indígenas
Formação de novos padres e líderes comunitários
Posição da Igreja em temas como aborto, união homoafetiva e mudanças climáticas
A Arquidiocese de Curitiba já se prepara para acompanhar a eleição com transmissões ao vivo e eventos nas principais paróquias.
Expectativas para o futuro da Igreja
Cardeais como Walter Kasper (Alemanha), mesmo sem poder votar, apostam na continuidade. “Acredito que há uma expectativa muito clara. As pessoas querem um papa que siga Francisco. Um pastor que conheça a linguagem do coração", disse ele.
Ainda assim, a pluralidade de visões aponta para uma eleição aberta. O equilíbrio entre tradição e renovação será o ponto central das discussões nos próximos dias.
Conclusão
O conclave de 2025 entra para a história como um dos mais aguardados dos últimos tempos. Entre as homenagens ao papa Francisco e o desejo por novos rumos, a Igreja vive um momento de introspecção e escolha. Curitiba, como tantas outras cidades brasileiras, observa com atenção: o novo papa influenciará diretamente a relação dos fiéis com a fé, com o mundo e entre si.
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