Caso de PMs que atropelaram homem em Guarapuava terá nova investigação
Um ano após o atropelamento que resultou na morte de Alcione Pires, Justiça determina que caso saia do âmbito militar e seja investigado pela Polícia Civil. Família clama por justiça enquanto PMs seguem em atividade.

Justiça determina nova investigação sobre morte de homem atropelado por viatura da PM em Guarapuava
"Eles continuam soltos, trabalhando normalmente, enquanto a gente chora a perda todos os dias." Essa é a voz do irmão de Alcione Antônio Rosa Pires, morto após ser atropelado por uma viatura da Polícia Militar (PM) no centro de Guarapuava, no Paraná. Quase um ano depois do ocorrido, o caso ganha novo rumo: o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) determinou que o processo seja transferido da Justiça Militar para a Justiça comum. Com isso, o Ministério Público (MP-PR) solicitou a abertura de uma nova investigação pela Polícia Civil.
A reviravolta reacende o debate sobre a responsabilização de agentes públicos e a busca por justiça por parte das famílias. O episódio, registrado por câmeras de segurança, chocou a comunidade e agora segue para um novo capítulo judicial.
O atropelamento que comoveu Guarapuava
O caso ocorreu no dia 30 de abril de 2024, no bairro Conradinho, por volta de 12h30. Imagens de segurança mostram Alcione Pires, de 40 anos, caminhando lentamente no meio da rua. Diversos veículos desviam da vítima até que uma viatura da PM colide com ele, jogando-o ao chão.
Segundo o relatório da PM, após o primeiro impacto, a viatura ainda deu ré e passou duas vezes sobre o corpo da vítima. Quatro dias depois, Alcione teve a morte cerebral confirmada no Hospital São Vicente.
O que diz a Polícia Militar?
Logo após o ocorrido, foi instaurado um Inquérito Policial Militar (IPM). Em junho de 2024, a corporação concluiu o relatório final e indicou os dois policiais envolvidos por crimes como:
Homicídio qualificado
Falsidade ideológica
Fraude processual
O soldado Ariel Machado de Moraes, motorista da viatura, foi apontado como responsável direto pelo atropelamento. O cabo Hildebrante Pereira Paiva Junior, que estava como passageiro, também foi indiciado por falsidade ideológica e tentativa de manipulação de testemunhas.
Apesar disso, ambos continuam na ativa. Segundo a PM, "em respeito ao princípio da presunção de inocência", os policiais seguem em suas respectivas funções.
Mudança de jurisdição: da Justiça Militar para a comum
Em setembro de 2024, o promotor militar Mauro Alcione Dobrowolski entendeu que não houve dolo — ou seja, intenção de matar. Ainda assim, a Justiça Militar determinou o envio do caso para o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), que, por sua vez, decidiu pela transferência do caso para a Justiça comum.
Com isso, a promotora Dúnia Serpa Rampazzo determinou, no dia 24 de abril de 2025, que a Polícia Civil reabra a investigação com novas oitivas, coletas de provas e análise das imagens do dia do crime.
O que diz a defesa dos policiais?
O advogado Zilmo Girotto, que representa os dois policiais, alega que não houve intenção de atropelar a vítima. Segundo ele, "o que ocasionou o acidente não foram os policiais". De acordo com sua versão, os PMs estavam tentando parar a viatura para orientar Alcione a sair da via, mas este teria se dirigido na mesma direção da viatura, provocando a colisão acidental.
Família pede justiça: "Eles continuam soltos"
A dor da perda é sentida até hoje pela família de Alcione. Seu irmão, Rodolfo Pires, afirma que a imagem gravada pelas câmeras comprova que houve intenção dos policiais.
"Só quem perde um ente querido sabe o que é essa dor. Ver as imagens e saber que eles ainda estão soltos, trabalhando... é revoltante", declarou Rodolfo.
A família espera que a reabertura da investigação traga uma resposta mais justa e rigorosa sobre os fatos.
PMs investigados: histórico e atuação
Segundo dados do Portal da Transparência, o soldado Ariel Machado integra a PM desde 2012, enquanto o cabo Hildebrante está na corporação desde 2006. Ambos seguem vinculados à instituição, mas a PM não informou se atuam nas ruas ou apenas em funções administrativas.
Próximos passos da nova investigação
A Polícia Civil confirmou que foi notificada e irá reabrir o inquérito. No entanto, não detalhou quando recebeu a notificação nem quando dará início às diligências. O Ministério Público, por sua vez, não quis se manifestar sobre o andamento do novo processo.
A nova investigação deverá incluir:
Reanálise das imagens do atropelamento
Oitiva de novas e antigas testemunhas
Coleta de novas provas periciais
Esclarecimento sobre tentativa de manipulação de depoimentos
Repercussão e contexto local
Guarapuava, uma das maiores cidades da região central do Paraná, viveu dias de comoção após a divulgação das imagens do atropelamento. O episódio levanta discussões sobre o uso da força policial, transparência institucional e impunidade em casos envolvendo agentes públicos.
A repercussão do caso tem pressionado as instituições locais, e o envolvimento da Justiça comum indica uma busca por maior imparcialidade no julgamento.
Implicações legais e possíveis desfechos
Caso a nova investigação da Polícia Civil aponte evidências suficientes de dolo ou negligência grave, os policiais poderão:
Ser formalmente denunciados pelo MP na Justiça comum;
Responder a processo criminal por homicídio qualificado;
Enfrentar sanções administrativas dentro da PM;
Ser afastados de suas funções (caso haja decisão judicial).
Conclusão: Justiça em xeque
A decisão de transferir o caso da esfera militar para a Justiça comum abre uma nova perspectiva de rigor e transparência. Para a família de Alcione e para a população de Guarapuava, a medida representa uma chance de que o caso seja tratado com a seriedade que merece.
O episódio traz à tona questões mais amplas sobre a responsabilização de agentes públicos, a efetividade dos mecanismos internos da polícia e o papel da sociedade civil na cobrança por justiça.
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